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AVENTURA
         De Cruz Alta/RS a Barretos/SP:




         1900 km em 82 dias de estradão





         O projeto Resgatando Tradição, do muladeiro Glaucio Nascimento, nasceu pela vontade de
         refazer o caminho das tropas, logo após que assistiu uma Tropeada no programa Globo Rural
         em 2006. Treze anos se passaram e o projeto se tornou realidade, com a
         chegada acontecendo na 63ª Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos.


        J          unto a quatro mulas e um  estradas das tropas, mesmo porque exis-
                                            tem lugares que ainda estão preserva-
                   caminhão de apoio dirigido
                                            dos,  são  de  terra  batida  e  facilita
                   pelo irmão Haroldo, Glaucio
                                            bastante para tropa, e algumas destas
                   Nascimento  deu  início  ao
                   seu projeto Resgatando Tra-
         dição no dia 30 de maio, partindo da ci-  estradas passam por fazendas que hoje
                                            são propriedades particulares, e isso
         dade de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul,  trouxe um pouco de transtorno.
         em direção a Barretos, onde concluiu a  “Teve uma ocasião em que
         tropeada, após 1900 km, no dia 17 de  eu teria que passar por duas
         agosto, primeiro sábado da maior festa  fazendas e a distância era
         do peão do país.                   longa. Cheguei na primeira
            Segundo Glaucio, o programa que as-  por volta de 16 horas e fui
         sistiu em 2006 fez nascer nele a vontade de  atendido pelo capataz que
         refazer o caminho das tropas, o mesmo  me  disse  que  não  teria
         que se fazia antigamente quando as tropas  como  eu  passar  para  o
         de mulas eram levadas do sul do país para  outro lado pois a Fazenda
         serem comercializadas na feira de Soro-  havia sido negociada e que
         caba.  Ele adaptou o projeto até Barretos.  ele não  tinha as chaves da
            Durante  o  longo  trajeto  surgiram  porteira,  perguntei    então
         muitas oportunidades e Gláucio foi fa-  qual  seria  outra  opção,    ele
         zendo negócios, deixando o caminhão de  me falou, ‘a opção é você vol-
         apoio pequeno, já que comprou pelo ca-  tar, são 45 kms’. Respondi a
         minho 11 cabras, mais três mulas, algu-  ele de jeito nenhum e acabei
         mas galinhas, ração, feno, alfafa e aveia.  convencendo  a  abrir  uma
            “Sempre que surgia oportunidade eu  cerca que me permitiu pas-
         fazia  negócios. Também  vendi  arreios  e  sar. Só que isso já era bem
         traias, pois ajudava no custo da viagem que  no fim da tarde, e estava co-
         foi grande. Eu tinha que me virar para abas-  meçando a escurecer, ten-
         tecer o caminhão. Cheguei até trocar ca-  tei  seguir  viagem  para
         chaça que levei por óleo diesel”, relembra.  chegar no pouso, mas infeliz-
            Com experiência em cavalgadas para  mente não consegui atravessar
         Aparecida do Norte, Pirapora do Bom  a mata e acabei dormindo por
         Jesus, Iguape, Glaucio conta que tam-  ali  com  as  mulas,  com  uma
         bém fez romarias da Praia Grande a Ita-  grande preocupação com onças,
         nhaém,  além  de  ter  saído  de  São  muito comum naquela região. Por
         Bernardo do Campo até Ubatuba mon-  volta das 23 horas, ouvi barulho de
         tado em mulas.                     carro, e era um fazendeiro que foi me
            A maior dificuldade encontrada no  resgatar, pois avisaram que havia pas-
         caminho para ele foi o fato de não co-  sado um tropeiro com as mulas e que
         nhecer o trajeto e estar fazendo pela pri-  pelo horário dificilmente eu iria conse-
         meira  vez.  Nem  todos  conhecem  as  guir atravessar a mata. Preocupado, ele


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