Sempre que observamos um cavalo, umas das primeiras coisas que notamos é sua pelagem. Alguns possuem pelagens exóticas, como os pampas, amarilhos, tordilhos, pretos, appaloosa, etc. Mas, independente de cor, um animal com os pêlos finos, brilhantes, macios, nos chamam a atenção. Todos esforços que dispensamos aos cuidados da pelagem de nossos cavalos não é meramente um fator estético.
A pele e o pêlo constituem o manto de revestimento do organismo animal, formando uma barreira de proteção ao frio, ao sol, da desidratação e das contaminações externas, sendo um dos componentes importantes na manutenção da termoregulação.
A pele do cavalo é notadamente resistente e muito sensível; é constituída pela epiderme, ou capa externa, e, subjacentemente, pela derme e subderme.
A principal função da pele é a proteção. A pelagem fornece uma proteção mecânica, e também funciona como um importante sistema de filtragem e isolante. O estrato córneo, uma membrana flexível, durável, forte e altamente desenvolvida, serve como uma estrutura química e impermeabilizante; se for removido, a pele funcionará como uma membrana mucosa e será livremente permeável a quase todos os agentes. A temperatura cutânea, hiperemia, hidratação do estrato córneo, lesão química ou mecânica à membrana, afetam e alteram a sua função protetora.
Aumento da temperatura cutânea e da hidratação da epiderme, hiperemia e lesão mecânica ou química à superfície aumentam a penetração dérmica a materiais nocivos. A pelagem também tem a função de proteção contra a penetração de agentes tóxicos ou alergênicos através da superfície da pele, por filtração mecânica e adsorção de moléculas positivamente carregadas, à ceratina negativamente carregada do pêlo. O terceiro tipo de proteção proporcionada pela pele é contra a irradiação actínica.
Dos estratos da pele originam-se os anexos que são os pêlos, cascos, glândulas sebáceas, sudoríparas, mamárias. A derme é a região de tecido conjuntivo denso que separa a pele propriamente dita dos demais tecidos corporais. E na derme que encontramos artérias, veias, capilares, vasos linfáticos, fibras nervosas sensitivas e as glândulas de secreção exócrina.
As glândulas sudoríparas do cavalo encontram-se distribuídas praticamente por todo corpo do animal, exceto nas extremidades, conferindo uma grande capacidade de suar, que associada a mecanismos de ereção dos pêlos, formam um eficiente sistema de resfriamento.
A cor da pele é proporcionada por grânulos de melanina, conferindo, em união com a cor dos pêlos, a tonalidade característica de cada padrão de coloração.
A luz ultravioleta é filtrada pela camada pilosa e absorvida pelos grânulos de melanina na epiderme e no pêlo.
A pele é importante para a regulação térmica no homem e em alguns animais domésticos. Isto é particularmente verdadeiro para o cavalo e em menor grau para suínos, ovinos e caprinos.
A conservação do calor é feita por meio de vasoconstrição, tremor e isolamento proporcionado pela gordura subcutânea e pela ereção dos pêlos. É a pelagem secundária, em vez da primária, que isola o animal através de espaços aéreos mortos contidos na camada pilosa, particularmente quando ereta. Para esta função propriamente dita, a pelagem deve estar seca e impermeável.
Em suma, a pele é o termômetro de avaliação do estado de saúde do animal. Animais doentes apresentam pele áspera, sem elasticidade, descamando e pêlos sem brilho.
Dermatomicoses ou tinhas
As tinhas são dermatomicoses que produzem uma afecção cutânea contagiosa causada por fungos que se alojam nos pêlos e pele, ou ambos, invadindo células epiteliais corneificadas ou o próprio pêlo.
Os fungos que comumente causam a enfermidade são: Trychophyton equinum, T.quinckeanum, T. mentagrophytes, T. verrucosum, Microsporum equinum e M. gypseum. Os agentes podem viver como saprófitos em resíduos vegetais deteriorados e no solo (geofílicos) e nos próprios animais (zoofílicos). A contaminação ocorre por contato direto entre os animais, ou indiretamente através de mantas, escovas, raspadeiras e baixeiros, ou em animais que permanecem em regime de estabulação por muito tempo, em baias úmidas e escuras com cama alta e capim em decomposição favorecida pelas fezes e urina.
Outro componente importante na instalação do processo é o estado de higiene da pele e as condições de resistência do organismo que, ao se desequilibrarem, propiciam condições de instalação e desenvolvimento das lesões.
Muitos fungos causadores de lesões nos cavalos são transmissíveis ao homem, razão pela qual deve ser dispensado todo cuidado no contato com animais afetados.
As tinhas manifestam-se mais frequentemente durante as estações chuvosas e quentes, por propiciarem condições de temperatura e umidade ideal para o desenvolvimento dos fungos.
As regiões de predileção para o aparecimento das tinhas são: cabeça, pescoço, região escapular, costado, crina, garupa e dorso. Cavalos afetados podem apresentar lesões superficiais ou profundas, que se iniciam como placas arredondadas com pêlos eriçados e a região dolorida a toque. Posteriormente os pêlos tornam-se ásperos e caem, ou são facilmente arrancados em tufos, deixando uma área de alopecia, acinzentada, brilhante, com cerca de 3 cm, diâmetro este que pode variar conforme o fungo. Surgem crostas delgadas na área de alopecia e os pêlos podem voltar a crescer em torno de 30 a 40 dias.
Os animais podem apresentar discreta coceira e raramente as lesões são pruriginosas, exceto nas afecções com M. gypseum, cujo diâmetro das lesões é menor, as crostas são espessas e possuem aparência de lesão difusa.
O diagnóstico é baseado na apresentação das lesões, devendo ser confirmado pelo exame microscópico de raspado da pele e pêlos da região afetada, evidenciando a presença de esporos ou micélio do fungo.
Colaboração: Thiago Nogueira Negrão D’Angieri, médico veterinário. Referências: THOMASSIAN, A. Enfermidades dos Cavalos. 4ª ed. São Paulo. Livraria Varela – 2005. 573p.