Nosso #tbt de hoje traz a viagem que fizemos acompanhando grupo de brasileiros para conhecer o cavalo Trotador Francês na França. Matéria publicada na edição 10 da Revista O Trotador, em março de 2017 .
“Entre os dias 22 e 27 de fevereiro nossa equipe da Revista O Trotador esteve na França, a convite da LeTrot para conhecer o encantador mundo do cavalo trotador no país. Junto a mais três criadores brasileiros – Mário Vicensio (Haras Vicensio), Ricardo Nabas e César Pompermayer – fizemos visitas aos haras, centros de treinamento e os mais famosos hipódromos franceses, além de acompanhar de perto a acirrada disputa do Gran Prix d’Paris. Como registramos tudo em muitas fotos, achamos melhor fazermos nesta edição uma matéria geral sobre a viagem, abrangendo os resultados do GP e dividir o restante do material, abordando cada local visitado de forma mais ampla em outras edições.
A nossa chegada em Paris aconteceu no dia 23 de fevereiro, após o almoço, e fomos recebidos pelo pessoal da LeTrot que nos levou ao Hotel em Versailles, onde passamos a primeira noite, pois no dia seguinte iríamos nos encontrar logo cedo com os brasileiros que já estavam há dois dias na França, para iniciarmos a intensa programação de interessantes visitas.
Logo às 8 horas da manhã a diretora do departamento internacional da LeTrot, Emmanuelle Morvillers estava nos esperando com uma van junto ao ex-treinador e ex-joquei Danien, hoje juiz da LeTrot, para nos levarmos à região da Normandia, onde iniciamos nossa jornada.
Haras national du Pin
A primeira parada foi na cidade de Orne, no Haras national du Pin, carinhosamente chamado de ‘Versailles para os cavalos’. Numa área de 1200 hectares, o Haras é de propriedade do estado e um local para descobrir o mundo dos cavalos através de uma excepcional herança passada de geração a geração há mais de 300 anos, através dos séculos. O local é aberto a visitações do público e ainda sedia 150 eventos por ano de todas as raças e diversas modalidades, além de oferecer uma gama enorme de cursos e possuir uma central de reprodução, enfim, todo segmento do cavalo reunido no mesmo espaço que foi construído para estes animais, já que na época da guerra, era preciso muitos cavalos e até hoje o haras foi mantido para eles.
No Haras existem hoje aproximadamente 30 garanhões, representando 10 diferentes raças, sendo que quatro delas ganharam suas origens francesas na área, sendo o “berço da raça”, e ainda permanecem figuras proeminentes no local: o Percheron, o Thoroughbred importado da Inglaterra; o Trotter Frances e a Sela Francês, mais comomente conhecida como “Selle Français”.
Em nossa próxima edição estaremos trazendo todo o histórico do local, pois fizemos lindas fotos e merece um destaque maior para que todos conheçam mais sobre a história do local e todos os serviços oferecidos.
Centro de Treinamento de Clopin/Ecurie Guarato
Após a manhã no maravilhoso du Pin, fizemos uma parada para o almoço e nos dirigimos ao Centro de Treinamento de Clopin/Ecurie Guarato, estabelecido no Haras de La Meslerie, de propriedade de Anne e Sébastien Guarato, na cidade de Le Ménil Bérard, também na região da Normandia. Guarato é o treinador do grande Bold Eagle, o famoso cavalo ganhador do Grand Prix d’Paris, que marca a história este ano após vencer três vezes o GP, ou seja, ganhador da Tríplice Coroa, fato que há mais de 40 anos não acontecia. Animais consagrados com ganhos milionários são treinados no local, como o Bold Eagle, por exemplo, que tem 3 milhões de euros em ganhos.
Com uma equipe qualificada, em instalações modernas o local é dividido em três diferentes partes. O Haras que oferece garanhões renomados e toda infra-estrutgura para inseminação, com sete grandes piquetes distribuídos em 7 hectares. Já o Centro de Treinamento possui 30 baias, e mais um espaço de cerca de 170 hectares, estando hoje com 35 a 40 cavalos adultos em treinamento, com pistas diferenciadas, sendo uma delas com subidas e pequenas curvas, especialmente projetada para os cavalos não verem o final da reta e não ficar monótono. Existe ainda o Centro Pré-treino, onde recebem os animais desde cedo para o primeiro treinamento, com funcionários trabalhando na preparação de uma média de 25 potros para as carreiras classificatórias e as primeiras corridas dos animais. E, por último, um Centro de Doma dos animais, com equipamentos especializados, num estábulo de 45 metros com 18 grandes baias e mais uma construção com seis baias maiores.
Sébastien Guarato é um treinador francês especializado em cavalos trotadore, nascido em 1972 e foi durante a década de 2000 que emergiu como um dos treinadores de maior sucesso, vencendo muitos GPs e clássicos, com grandes campeões como Roxane Griff, Rapide Lebel e o fenômeno Bold Eagle. Em 2016, o seu Centro de Treinamento teve ganhos de 7,5 milhões de euros.
Para se ter uma idéia de valores, a estadia é de 40 euros por dia, mais 20% de taxa, estando incluso ferradura, transporte para as corridas e alimentação. O veterinário é a parte. Na premiação das corridas, 20% é do treinador e 5% para o jóquei.
Haras de Sassy
Saindo de Guarato, no final da tarde, ainda houve tempo para conhecermos o Haras de Sassy, de propriedade de Celine e Jean-Yves Lhérété, instalado desde 1989 também em Orne, um local totalmente dedicado aos trotadores. No local existe uma ampla variedade de padrões para satisfazer cada criador; um centro de inseminação funcional e moderno; centro de terapia para o bem-estar animal, além do centro de treinamento. O Haras foi construído inicialmente em 40 hectares pertencentes ao Castelo de Sassy e, em 2004, os proprietários compraram uma fazenda de gado de mais 35 hectares para construir um SPA exclusivo na França para os cavalos. Em 2009, também houve a construção do centro e reprodução e inseminação.
Jean-Yves tem formação de jóquei e trabalho com vários treinadores do cavalo trotador, tendo sua licença datada de 1992. Sua esposa Celine é formada em contabilidade, mas apaixonada desde a infância por trotadores, e trabalha também com gerencimento e monitoramento de gado na fazenda. A equipe do Haras hoje é formada por cinco pessoas, que durante a estação e monta tem acrescido mais profissionais.
Dentre os animais de destaque nascidos e criados no Haras estão Number Majyc (garanhão com ganhos de mais de 300 mil euros), Vive Majyc (381.900 euros) e Line Pellois (445,423 euros). Pudemos conhecer no Centro de Treinamento o animal Timoko, outro ícone da raça, com ganhos superiores a 4 milhões de euros.
O Centro de Reabilitação para Cavalos (SPA) oferece 14 boxes com água para exercitar os cavalos mais uma piscina de 45 metros de comprimento, também destinado aos exercícios e treinamento animal. Já a infra-estrutura do Centro de Reprodução inclui 10 baias de parto com câmeras, três para garanhões, laboratório, dentro outros setores.
O SPA visa usar todos os benefícios da água e combina as técnicas de tratamento e reabilitação de cavalos pela água. O método pode ser usado como a primeira fase de retorno ao trabalho de um cavalo convalescente e constitui em si mesma uma reabilitação completa e total. É um complexo único na França que combina a piscina e o chamado “Water Walker”, onde os animais caminham na água. Com vários piquetes para caminhadas, o local também possui muitos anos de experiência em técnicas de cuidados da saúde e de formação de alto nível.
Os benefícios da hidroterapia eqüina inclui o aumento a freqüência cardíaca e ventilação pulmonar. A imersão em água alivia o corpo e os membros de stress, tais como a gravidade. Já o ‘Water Walker” permite que o cavalo tenha um esforço muscular e cardiovascular, poupando uma área enfraquecida. Trabalhando na ausência de gravidade permite também que as regiões de movimento tire a dor. É um tipo de hidroginástica, mobilizando os diferentes segmentos dos membros, com objetivos preventivos e também curativos, podendo desenvolver a resistência do cavalo, já que na água é possível trabalhar sem forçar todo o membro do animal.
As terapias são para cuidados (tendinite e pós operatório, por exemplo); fitness (recuperação da forma física); relaxamento (para cavalos estressados) e recuperação (após uma corrida). Como benefícios são citados músculos, tendões, ligamentos e articulações eficaz no alongamento; o respeito pela elasticidade natural dos órgãos; reabsorção de edemas; e o efeito relaxante, que traz grande relaxamento psicológico.
Haras d”Haufor
No segundo dia de visitas, nosso destino foi Mayenne, onde a primeira parada foi o Haras d”Haufor, que abrange uma área de 140 hectares, divididos entre: Centro de Trienamento, com 60 baias, duas pistas de corrida e uma em linha reta e um centro de doma; o criatório, com uma área construída exclusivamente para as matrizes; e o centro de reprodução, aberto em fevereiro de 2011, oferecendo seis garanhões.
O diferencial deste criatório é que eles criam os animais e não vendem os potros, o objetivo lá é fazer o processo completo, domando, iniciando nas pistas até as corridas em si. Os animais ficam em locais separados, em éguas, potros, garanhões e o acompanhamento é desde o nascimento até os resultados finais em pista. Neste ano eles possuem 17 machos e 16 fêmeas .
Tivemos a oportunidade de conhecer os reprodutores que servem o criatório, assim como seus históricos e produção premiada.
Hipódromo Meslay du Maine e Centro de Treinamento
Saindo do Haras fomos almoçar e na sequência o roteiro indicou uma visita ao Hipódromo Meslay du Maine, localizado no departamento de Mayenne, região de Paris. Criado em 1934, o local sedia corridas de galope, com obstáculos e de trote. Com duas pistas, no local também foi criado um centro de treinamento com 100 baias. A construção de arquibancadas, em 2001, para receber o público agregou à infra-estrutura do hipódromo, assim como mais mudanças foram realizadas nos anos seguintes para o conforto dos profissionais, visitantes e apostadores, como o restaurante e remodelação do estacionamento.
Cada ano são realizadas cerca de 12 reuniões, incluindo oito de âmbito nacional. A pista de trote possui 1614 metros, com uma linha de chegada de 400 metros. Dentre os eventos de destaque realizados estão o Grand Prix Anjou-Maine; Prix du Département de La Mayenne; Prix Claude Munet; Prix Jacques Paillard; Prix de La Chalopinière; Prix de La Bretonnière; e Grand Prix de La Fédération dês Courses.
A capacidade do hipódromo é para 3000 lugares, além de mais 1200 nas tribunas cobertas e o estacionamento tem capacidade para 1000 veículos.
Hipodromo de Vincennes-Paris
O terceiro dia de nosso tour pela França foi destinado às corridas, pois foi o grande dia do Grand Prix d’Paris, no hHipódromo de Vincennes. Emmanuelle combinou de chegarmos mais cedo para podermos conhecer todo o local, sua estrutura e backstage de um grande evento, tão esperado por todos.
A construção da pista de Vincennes aconteceu em 1863, destinada até então para as corridas com obstáculos. As primeiras corridas de trote aconteceram em 1879, pois em desuso por algum tempo no período da Guerra Franco-Prussiana, depois de muito trabalho voltou a sediar corridas . Com um programa misto de corridas de obstáculo e trote, a pista realmente ganhou impulso com a Reunião de Inverno de 1905, e, em 1910, já possuía um programa de 38 corridas por ano.
Com a reabertura do local após a guerra, em 1919, objetivando criar um evento de prestígio global, atraindo participantes franceses e estrangeiros e também para prestigiar e agradecer os aliados dos Estados Unidos pela ajuda durante a Guerra, foi criado o Gran Prix d’Amérique e sua primeira edição aconteceu no dia 1º de fevereiro de 1920, que teve como campeão Pro Patria.
Como o crescimento foi grande a programação diurna do hipódromo parecia pequena e por isto, em junho de 1954 iniciaram as corridas noturnas idealizadas por René Ballière. Em 1976, Bellino II ganhou a Tríplice Coroa, sendo campeão dos GPs d’Amérique, France e Paris), terminando sua carreira no ano seguinte com recorde fenomenal.
Em 1983 Vincennes ganha um novo e moderno visual, com uma capacidade para acolher 40 mil espectadores, além do ecrã gigante oferecendo mais de 100m2 de corrida para todo o público presente. Dez anos mais tarde, uma nova obra faz uma grande faixa inclinada na pista para os animais ganharem velocidade e Vincennes se consagra como o templo do cavalo trotador.
Centro de Treinamento Grosbois
Em nossa despedida da França, fomos primeiro a Grosbois, o principal centro de treinamento dos trotadores franceses. Ocupando uma área de 40 mil hectares, o local recebe mais de 1500 animais para treinamento, mas antes de se tornar um espaço do cavalo trotador foi um castelo para caça real, que hospedou inúmeras festas e banquetes sem fim. Um local histórico que mantem até hoje mobílias, livros, mapas de guerra, ainda da época de Napoleão Bonaparte.
Mesmo com tempo chuvoso, pudemos conhecer todo o castelo e infra-estrutura do local voltado ao cavalo, por isto, estaremos também trazendo nas próximas edições um especial sobre este maravilhoso Centro de Treinamento, contando sua história com detalhes.
Hipódromo d’Enghien-Soisy
Inaugurado em 1879, o Hipodromo D’Enghien-Soisy faz parte de uma série de pistas construídas durante a segunda metade do século XIX próximo à Paris. A pista de trote foi construída em 1922. Passando por reformas em vários anos, foram construídas novas arquibancadas.
Para os trotadores existem corridas nas distâncias de 1609 metros; 2150m, 2250m e 2850m, sendo esta última distância a mais comum dos páreos em Enghien. Atualmente o hipódromo acomoda público de 20 mil pessoas, incluindo 3000 nas arquibancadas, sendo possível assistir as carreiras do restaurante que possui vista panorâmica.
O Hipódromo organiza anualmente cerca de 40 corridas de trote e 15 de galope entre o início de fevereiro e dezembro, tornando-se uma das pistas mais importantes da França após o Hipódromo de Vincennes.”