Nosso #tbt hoje traz matéria publicada na edição 4 da Revista O Trotador (*) contando a história do criador Giuseppe Constantino, vale a pena relembrar!
“O italiano Giuseppe Constantino, ou simplesmente Pipo, como todos o conhecem, chegou ao Brasil em 1954, aos 6 anos de idade. Apaixonado por cavalos desde criança, só pode ter seu próprio animal depois de adulto. Começou na sela, onde adquiriu muito conhecimento, mas foi pelo trote que se apaixonou, assim que experimentou pela primeira vez um cavalo veloz, formando então o Haras Mariju.
Natural da Sicília, Pipo volta no tempo quando o assunto é cavalo. Lembra que mesmo a família não tendo animais, sempre que ouvia o barulho dos cavalos passando pela Nacionale, uma das principais vias da Itália na época, saia correndo para poder vê-los. No Brasil morava no bairro do Butantã, na capital paulista, e a maneira que encontrou para estar perto dos animais foi ajudar dois amigos, filhos de um carvoeiro, a ensacar carvão para então sair na carroça com eles fazendo entregas, depois da escola.
“Meu pai comprou uma chácara no Embu e criava de tudo nela, menos cavalo. Quando aposentou, foi para Araçatuba e eu, já com 25 anos de idade, fiquei com a área e então adquiri meu primeiro cavalo, o Carijó. Por incrível que pareça, eu sempre procurei trabalhar com cavalos de sela, pois fazia romarias, cavalgadas, passeios e, na época, existia uma competição chamada Máquina Quente, para cavalos pisadores, que era atração nos rodeios. Sempre perseguia o objetivo de ter um cavalo cada vez melhor para estas provas. Cheguei até ir no Trote algumas vezes, mas a sela me dava uma maior abrangência, de ir a romarias e passeios”, conta Pipo.
Querendo cada vez mais conhecer a arte de dominar um cavalo, procurou aprendizado e trabalhando os animais se tornou conhecido na região que morava como domador de cavalos. “Fazia pelo prazer e várias pessoas me procuravam para eu mexer com seus animais. Então quis aprender o adestramento. Peguei um cavalo lusitano que havia comprado e fui para o Cepem, onde tive aulas com o Luís Carlos”.
Objetivando realizar uma cavalgada que marcasse sua vida, idealizou uma viagem até Porto Seguro a cavalo. Era o ano 2000 e o projeto coincidiu com a comemoração dos 500 anos do Brasil. Em 99 começou a estruturar a viagem, fazendo uma rota só pelo litoral, que totalizou 2000 km. Pipo foi atrás de patrocínio, conseguiu junto à Petrobrás e também com a Associação do Cavalo Puro Sangue Lusitano e, com mais dois amigos, realizou a peregrinação.
Cavalor trotador
Logo após a experiência de uma cavalgada de 2000 km, o trote chegou à vida de Pipo. “Sempre gostei de corrida, mas nunca tive o entusiasmo para o trote, já que estava muito envolvido com o cavalo de sela. O cavalo ligeiro entrou na minha vida em 2001, quando um amigo chamado Valker, tinha uma égua muito rápida. Charrete engatada, um dia me convidou para dar uma volta com ele. A partir deste dia eu me encantei de uma tal forma que posso dizer que foi a paixão pelo ‘vento na cara’. Uma coisa maluca, mas de lá para cá, se eu montei umas duas vezes na sela foi muito”.
Logo adquiriu seu primeiro cavalo desta nova fase, o Jesse James. Na mesma época mudou de Embu para a cidade de Atibaia e comprou a área onde hoje funciona o Haras Mariju, seu criatório.
“Quando comprei aqui já tinha o objetivo de montar o haras e iniciar a criação de cavalo trotador. Peguei o finalzinho do trote, só assistindo as corridas, onde sempre ouvia falar em animais Albion e Chucaro, então tive a oportunidade de ir para a Argentina, onde comprei quatro éguas no Haras Albion e quatro potros que me deram o prazer de começar a criação. Hoje estamos muito satisfeitos com o resultado e meu gosto pessoal é mais pelo trotador do que o marchador. Até crio alguma coisa com genética marchador, porque é o que o mercado quer, mas minha reserva sempre é o trotador. Isto porque se você não souber conduzir um trotador, pode perder uma corrida numa fração de segundos, já que o animal galopa. Esta dificuldade maior na lida é algo que me atrai, sem dizer que a forma dele andar me dá um prazer maior, o trotador correndo é muito mais bonito”.
A principal satisfação que a criação dá a Pipo é de todos os seus clientes terem se tornado seus amigos, sem exceção. “E sabe por que? Pela minha sinceridade no que falo. Meu objetivo principal não é a venda, ela acaba sendo apenas uma consequência e, por esta razão, talvez tenha o sucesso na minha criação. Não quero ser melhor do que os outros, somente ter o reconhecimento pelo trabalho sério e responsável desenvolvido”.
O Haras Mariju viabilizou a Pipo conhecer pessoas incríveis e dentre elas cita o amigo e cliente Francisco, de Ubá/MG. “Ele é uma pessoa que admiro muito. Deficiente visual e apaixonado pelo cavalo de corrida, hoje está começando sua criança em Minas Gerais. São estes fatos que dão prazer na minha vida”.
Apesar de nunca ter idealizado possuir um criatório, Pipo sente-se realizado com o Haras Mariju e afirma que a meta agora é selecionar cada vez melhor, um desafio caro a ser batido. “Ainda bem que hoje temos investidores, como o Mário Vicensio, que importa grandes garanhões dos Estados Unidos para podermos adquirir coberturas e incrementar nossa criação. Na minha opinião as importações são um marco para o trote e daqui mais uns anos não vamos ficar devendo em nada para a Argentina, vamos perseguir os Estados Unidos em termos de qualidade. A melhoria da seleção é sempre nosso objetivo para o prazer de ter a marca Mariju reconhecida como criatório que seleciona cada vez melhor”, finalizou.”
* matéria publicada em maio 2015