Hemograma: entenda um pouco mais sobre esse importante exame

Um dos exames de sangue mais realizados na equinocultura é o hemograma completo com pesquisa de hematozoários. Esse exame, somado a clínica do animal, é muito utilizado na rotina de trabalho dos colegas veterinários para uma primeira avaliação da condição geral do animal.

O hemograma compreende a série vermelha, série branca e pesquisa de hematozoários.


Visualização de Babesia sp em esfregaço sanguíneo

1) ERITROGRAMA (SÉRIE VERMELHA)

Os eritrócitos (hemácias) servem como veículos de transporte mediante a aquisição de oxigênio no pulmão, carreando o O2 para as células desprovidas de oxigênio, trocando e carreando o dióxido de carbono de volta aos pulmões para liberação via expiração.

A hemoglobina é o principal componente dos eritrócitos e é responsável pelo transporte de oxigênio e dióxido de carbono. Esse ciclo é contínuo e repetido por toda a vida do eritrócito. Os eritrócitos são descritos pelo seu tamanho, formato e grau de palidez central.

O hematócrito (HT) refere-se à percentagem ocupada pelos glóbulos vermelhos no volume total de sangue. Caso o valor seja inferior à média, significa que existe pouca quantidade de glóbulos vermelhos circulantes. Podem ser obtidas alterações falsas como a diminuição do HT devido a excesso de EDTA, amostras velhas sem refrigeração ou refrigeradas por longos períodos ou quando são utilizados anestésicos ou métodos de contenção química do paciente causando encarquilhamento celular.

Caso o HT apresente valor superior à média, significa que existe uma quantidade maior de glóbulos vermelhos para o volume de sangue, podendo ser falsamente aumentado quando o animal se encontra desidratado ou a coleta do sangue tiver sido realizada sob situação de excitação ou stress. Assim também os processos induzidos pelo exercício são refletidos em alterações nos constituintes do sangue. O volume globular (VG), valores de proteínas totais plasmáticas, da concentração de hemoglobina e na contagem total de hemácias aumentam conforme a intensidade do exercício, sendo que pode haver discretas reduções nos valores destes parâmetros após o repouso. Essas elevações nos valores do eritrograma estão relacionadas com a contração esplênica devido à maior necessidade de oxigenação.

O aumento do VG e da concentração plasmática de proteínas, após exercício intenso, também foi observado e estão relacionados com o fato de que o exercício altera o volume plasmático, pelo deslocamento de líquido intravascular para o interstício, acrescido também da perda de líquido pela sudorese.

 ÍNDICES HEMATIMÉTRICOS

Pela contagem de eritrócitos, hemoglobina e hematócrito do paciente, os índices hematimétricos são calculados através de fórmulas, sendo úteis para classificação das anemias e suas respostas.

VCM: Volume Corpuscular Médio – indicador do tamanho celular quando comparado com valores de referência espécie-específicos. Permite a classificação celular em macrocitose, microcitose ou normocitose.

HCM: Hemoglobina Corpuscular Média – indicador do conteúdo médio (massa) de hemoglobina em um eritrócito individual.

CHCM: Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média – indicador da concentração média de hemoglobina nos eritrócitos individualmente. Permite a classificação celular em hipocromia ou normocromia.

2) LEUCOGRAMA (SÉRIE BRANCA)

Avalia as células brancas (leucócitos). A contagem diferencial é feita no esfregaço sanguíneo, permitindo a contagem das células e visualização de sua morfologia.

Neutrófilos: Atuam na primeira fase de processos infecciosos. São classificados de acordo com sua idade, em mielócitos, metamielócitos, bastonetes e segmentados, sendo que, em casos de intenso processo infeccioso há o DNNE (desvio à esquerda, ou seja, presença de células mais jovens na circulação).

Em processos tóxicos ou infecciosos graves, pode haver presença de grânulos negros dispersos no citoplasma (granulações tóxicas).

Linfócitos: Defesa imunológica e desempenham papel importante na formação de anticorpos. Diminuem na fase inicial de um processo infeccioso e reaparecem na fase final

Monócitos: Estão presentes em esfregaços de sangue de animais acometidos por erliquiose, histoplasmose ou leishmaniose. Geralmente há aumento de monócitos em processos infecciosos crônicos.

Eosinófilos: Presentes em reações alérgicas e anafiláticas e patologias que acometem o sistema respiratório. Desaparecem da corrente sanguínea em situações de stress e reaparecem no período de convalescência.

Basófilos: Fonte de mediadores da inflamação, liberam anticoagulante nas áreas de inflamação, evitando coagulação e estase do sangue e linfa.

3) PESQUISA DE HEMOPARASITAS

Alguns parasitas sanguíneos podem ser encontrados nos esfregaços de sangue periférico, sendo os mais comuns encontrados em equinos a Babesia sp e a Ehrlichia sp.

Vale lembrar que a presença de artefatos de coloração podem ser confundidos com hemoparasitos, portanto é importante a realização da leitura de um esfregaço pelo Laboratório através de um profissional altamente qualificado e experiente.

Colaboração: Roberto Delort, Medico Veterinário, www.delort.com.br e tel.(11) 4586-8400.