#tbt Seu Chico: experiência no treinamento de cavalos

Nosso #tbt hoje traz matéria publicada na edição 04 da Revista O Trotador, em março de 2015, contando a história do experiente treinador Francisco de Almeida Gomes, o famoso seu Chico. Vamos relembrar?

“Aos 71 anos de idade, Francisco de Almeida Gomes – seu Chico, como todos o chamam – continua treinando cavalos. Mesmo passando o legado para um dos filhos e netos, faz questão de estar na antiga, isto porque o trote é uma paixão que não consegue largar. Os muitos anos de conhecimento e grandes conquistas o tornaram referência do meio.

A história do seu Chico com o cavalo começou cedo, quando saía de carroça para vender as verduras que o pai plantava. Logo, já estava mexendo com cavalos Puro Sangue Inglês e, em 1962, chegou à Sociedade Paulista de Trote incentivado por um amigo a trabalhar com cavalos trotadores. De lá para cá, o trabalho se tornou também uma paixão e a dedicação foi total, cumprindo uma rotina diária, das 7 às 17 horas, de segunda a segunda, até o fechamento da SPT, na Vila Guilherme.

“Cheguei no Trote como treinador e tinha alguns cavalos de pensão. Depois de 10 anos, já estava com meus animais e várias cocheiras lá dentro. Além de treinador, era jóquei. O meu amigo Cruz, que gostava do jeito que eu trabalhava o cavalo inglês foi quem me empolgou a mexer com cavalo de trote, uma paixão imediata. Fui pegando o jeitinho e me tornei um bom treinador, ganhando muitos Grandes Prêmios e inúmeros títulos”, relembra Chico.

Foi com o cavalo de trote que o treinador conseguiu criar os filhos e manter toda a família, por isto, ressalta que o trote é tudo para ele. “Não consigo ficar longe. Vou par aas provas pela paixão e até hoje, aos 71 anos, preparo animais para a pista”. Segundo ele, para ser um bom treinador, é preciso ter cabeça boa e muita calma.

“Eu amava o trote na Vila Guilherme, foi um pecado acabar com aquilo. Minha rotina era sair 6 horas da manhã de casa, ir para a SPT, onde chegava por volta das 7 horas e ficava o dia todo mexendo com cavalos, até às 17 horas, quando voltava. Não tinha sol ou chuva que me parasse, de segunda a segunda. Era minha vida. Fui presidente da Comissão de Corridas por muitos anos, até o fim do Trote. Graças a Deus tive uma esposa que também gostava e me acompanhava, pois acho que só não tivemos problemas de convivência devido a isto”, conta.

Seu Chico teve três filhos e o mais velho deles puxou o seu gosto pelo trote. “O Kiko começou em 1990 a mexer com os cavalos, quando tinha 16 anos de idade, seguindo os meus passos, daí, em 94, ele já foi ganhador do Jubileu de Prata, além de ficarmos por oito anos como campeões das estatíticas da SPT, sendo ele como óquei e eu como treinador. Hoje, meus netos Deivid e Nauey, filhos do Kiko, também já estão correndo, completando a terceira geração da família no meio”.

A satisfação em ver a família dando prosseguimento ao seu trabalho é um orgulho muito grande para o seu Chico. “O pai sempre fica orgulhoso de ver o filho seguindo os seus passos e dando certo no que faz, com qualidade. Tanto o Kiko como os meus netos estão no caminho certo e isto é muito orgulho para mim, ver que já se tornou uma tradição que vamos passando de geração a geração. Eles têm o dom e sempre estou junto, para orientá-los quando preciso. Tenho um neto mais novo, Kaique, filho da minha filha, que também já está mostrando gostar do meio e começa a nos acompanhar pelas provas”.

O reconhecimento do seu Chico como treinador aconteceu naturalmente com as campanhas em pista, mas conta que foi reforçado pela vitória em um mano a mano realizado com o treinador que, na época, era conhecido como melhor de todos. Isto disparou a popularidade do “Portuguesinho”, como também era conhecido.

Cavalos que eram ruim de correr e que não iam bem na mão de várias pessoas era outro desafio que seu Chico gostava de aceitar. “Isto aconteceu com o Norbe, do Valtinho Loureiro, um cavalo que tinha passado pelos melhores treinadores do trote e não vingou, aí ele mandou para mim e no primeiro páreo de velocidade que o levei, tivemos vitória. Acho que eu dava certo, sempre trabalhei direito e os resultados acabavam aparecendo”.

Dentre fatos marcantes na carreira, o treinador lembra de um grande acidente sofrido em pista. Num páreo com nove animais, ele estava num sulky que quebrou ao meio, caiu e, graças ao filho kiko que vinha correndo do seu lado, não levou a pior, pois o filho conseguiu segurar o cavalo, depois de arrastá-lo por alguns metros. Chico teve fratura exposta na perna, passou 11 dias no hospital para poder ser operado e quase perdeu a perna. “Foi um acidente de parar carreira, isto há 10 anos”.

Pelos anos de vivência, o treinador é conhecido por não precisar de cronômetro para saber o tempo de um cavalo. Só de olho sabe marcar e sempre acerta o resultado final. “Lá no trote tinha os postes, que dava pra calcular o tempo a cada distância. Hoje, tenho ideia do tempo que vai dar e, ao final, sempre acerto”, fala.

Nos dias de hoje

A evolução do cavalo trotador e de todo o meio que o cerca é elogiada pelo seu Chico, afirmando que hoje os animais em geral estão muito mais ligeiros. “Antes, os páreos eram menos velozes e a diferença hoje é enorme”. Quando se fala em equipamentos então, a mudança é radical, pois tinha vezes que ele lembra ter que adaptar arame e corda para correr em pista. “Hoje, a maioria do arreamento é importada”, ressalta.

“O melhor de antigamente era apenas o grande público que lotava as dependências da SPT. Com tudo que passamos, acredito que as pistas particulares ajudaram a manter o mundo do cavalo trotador vivo”, avaliou.

E o trabalho não para. Morador da capital paulista, seu Chico não tem muito espaço para o treinamento, mas mesmo assim consegue preparar de 8 a 10 animais junto ao filho. “Temos umas cocheiras e o jeito hoje é treinar na rua mesmo. Quando precisamos de velocidade, temos que deslocar os animais para as pistas de Jarinu ou Campinas. A procura pelo nosso treinamento é grande, mas, infelizmente, não temos espaço físico. Apesar de continuar treinando animais, hoje vou mais devagar, mexo com alguns cavalos mas a maioria vai para o filho e os netos”.

Para o futuro, o treinador espera que cada vez o mundo do trote progrida mais. “Adoro ver um cavalo correr bem e não precisa ser meu! Faço questão de estar do lado da pista para assistir os páreos e o desejo é de ver mais e mais carreiras de qualidade”, finaliza. “