Novo tratamento para prevenção de doenças bacterianas em potros neonatos

No período do ano mais aguardado pelos criadores de cavalos, quando começam a nascer os potros de uma nova geração planejada e sonhada, fruto de muito estudo zootécnico e grandes investimentos financeiros. E é nesta fase em que se requer um maior nível de cuidados e atenção para minimizar a perda de potros neonatos e lactentes, evitando assim prejuízos financeiros, ou pior prejuízos genéticos que muitas vezes são irreparáveis.

Dentre os inúmeros desafios no cenário da equinocultura nacional, nos haras de criação, um grave problema com o qual os nosso técnicos e criadores certamente se deparam com muita constância são os quadros de infecções bacterianas em animais jovens, desde o nascimento até o período de desmame aonde, quer seja por imaturidade do sistema imune ou por queda das defesas orgânicas em períodos de stress, esses animais acabam sendo expostos a uma série de patógenos que podem desencadear quadros clínicos que vão desde diarreias, problemas pulmonares, neurológicos, entre outros, que trazem inúmeros prejuízos para o desenvolvimento dos animais e obviamente econômicos.

 Fatores como aumento da densidade de animais, grande trânsito de receptoras, introdução de animais com infecções subclínicas portadores de agentes patogênicos, contribuem para que ocorra a contaminação das áreas de pastagem dos criatórios e dessa forma temos a instauração dessas bactérias e as mesmas passam a fazer parte do ambiente do haras. Normalmente, animais adultos, que já possuem um sistema imunológico ativo e eficaz, não desenvolvem sinais clínicos de doença decorrentes desses agentes, porém potrinhos (as) lactentes, submetidos a períodos de stress (ex.: desmame) e animais imunossuprimidos, estão mais expostos a ação desses patógenos.

Temos uma variedade enorme desses microrganismos, mas alguns merecem destaque devido a sua maior prevalência e também de gravidade dos sintomas que desenvolvem, seriam eles:

  • Rhodococcus equi
  • Salmonella sp
  • Escherichia coli
  • Enterobacter sp

Entre outros, onde vamos destacar a primeira pela alta morbidade, gravidade dos sintomas e letalidade.

            A rodococose é uma doença de distribuição mundial causada pelo Rhodococcus equi, e, no Brasil, é assinalada como uma das doenças mais severas na criação de potros (RIBEIRO et al., 2005), responsável por taxas elevadas de mortalidade e grandes perdas econômicas relacionadas à pneumonia grave nestes animais com menos de seis meses de idade.

Rhodococcus equi é um habitante do solo e aparentemente um microrganismo saprófito do intestino de herbívoros. Multiplica-se facilmente nos solos que recebem esterco desses animais (MEIJER & PRESCOTT, 2004), apresentando ampla disseminação em propriedades de criação de equinos (PRESCOTT & HOFFMAN, 1993; LAZZARI et al., 1997). Além disso, R. equi apresenta elevada resistência no ambiente, podendo persistir viável por até 12 meses, mesmo quando exposto a condições extremas de temperatura e pH (BENOIT et al., 2002).

A distribuição do R. equi é muito variável, podendo estar presente de forma endêmica em algumas fazendas, ocorrer esporadicamente, ou mesmo nunca ter registro de ocorrência, em outras. Isso pode ser explicado pelas diferenças na densidade de potros, manejo da fazenda e fatores ambientais como temperatura, empoeiramento e pH do solo (MUSCATELLO et al., 2007). Além das altas concentrações de cepas virulentas da bactéria, fatores relacionados ao manejo, ao clima e aos potros vêm sendo correlacionados à prevalência da doença nas propriedades endêmicas. Com relação ao manejo, a superlotação, a manutenção de lotes de animais de idades diferentes, a permanência de potros por um longo período no mesmo local, a pobre cobertura de pasto e a ausência de monitoramento dos animais após o nascimento (CHAFFIN et al., 2003) são fatores que contribuem para a instalação e permanência da doença na propriedade. Da mesma maneira, propriedades que ficam em locais com temperaturas mais altas e pouca incidência de chuva apresentam um risco maior de se tornarem endêmicas do que aquelas onde a alta concentração de chuva impede a manutenção de altos níveis de empoeiramento durante a época de nascimento dos potros (MUSCATELLO et al., 2006).

Potros infectados são a principal fonte de infecção em fazendas com histórico da doença, pois disseminam grandes quantidades de R. equi virulento em suas fezes até a sétima semana de vida (TAKAI, 2001). A infecção ocorre principalmente pela inalação de partículas de poeira contaminadas com a bactéria, apesar de o trato alimentar ou a pele lesada servirem de porta de entrada (MUSCATELLO et al., 2007). A alta concentração de cepas virulentas de R. equi encontrada no ar exalado por potros doentes sugere que a transmissão direta entre potros é possível, podendo levar a um impacto significante na prevalência da doença em haras de criação (MUSCATELLO et al., 2009).

O diagnóstico precoce e a implantação do tratamento imediato são fatores primordiais para que se tenha sucesso no combate a essas infecções, porém aqui vale também aquela máxima de que a prevenção certamente ´o melhor remédio e também o mais barato e eficiente. Dependendo do agente causal, o tratamento envolverá a administração de antibióticos, anti-inflamatórios, antitérmicos, soroterapia e terapias de suporte que além de custos altos, podem não ter a eficácia desejada, e em quadros mais graves, caso não haja reversão do quadro, podemos ter altos índices de mortalidade. E muitas vezes quando os potros se curam ficam com sequelas e perdem muito no seu desenvolvimento.

            Com base nesse cenário, muitas pesquisas vêm sendo desenvolvidas com foco em buscar alternativas mais econômicas e mais eficazes para atuar na prevenção desses quadros de contaminação por bactérias e patógenos ambientais. Ensaios realizados in vitro com culturas selecionadas de microrganismos vivos (conceito Kefir), mostraram extrema eficiência no combate a Salmonella sp e Escherichia coli, eliminando tais coloniais em placas de cultura em laboratório, com o conceito de eliminação dessas bactérias por competição. E com base nesses trabalhos, iniciamos em 2019 um trabalho a campo, através da criação de um produto (Imuno Care – Noveq) e de um protocólo (descrito abaixo) para as éguas e potros com foco no combate ao Rhodococcus equi em alguns haras com histórico de morbidade (30 a 40%) e mortalidade (20 a 30%) decorrentes dessa infecção por essa bactéria.

            Durante duas estações de monta nestes haras com alta incidência do R. equi, as éguas prenhes (matrizes e receptoras) foram separadas em grupos, sendo um controle qual não tomou o produto e outros três tomando o produto em dosagens diferentes. Da mesma maneira conforme foram nascendo os potros destas éguas, eles foram submetidos ao mesmo protocolo que suas mães desde o dia do nascimento. Foram coletadas fezes destes animais antes do fornecimento do Imuno Care®, no caso das éguas, e deste o dia do nascimento no caso dos potros, e semanalmente após isso, medindo assim o tempo de colonização do Kefir e em contrapartida a diminuição e/ou ausência do R. equi, para assim determinar a dose necessária e o período de fornecimento para montar um protocolo eficiente de prevenção e auxilio no tratamento deste patógeno. No período do estudo nenhum potro que tomou o produto desenvolveu a doença em nenhuma de suas formas, e os potros do grupo controle assim que começavam a apresentar sintomas da doença, tomaram o produto e tiveram sintomas menos severos, maior resposta ao tratamento com antibióticos e menor tempo de recuperação, além de não perderem desenvolvimento e nem desenvolver sequelas.

            Após este período de estudo, com a dosagem e o protocolo ajustado, foi introduzido este tratamento profilático em diversos haras com altas índices de morbidade e principalmente mortalidade e os resultados foram excelentes, com a morbidade caindo vertiginosamente e a mortalidade chegando a 0% em todos os casos.

O protocolo final usado nos casos relatos e sugerido com Imuno Care é o seguinte:

Éguas gestantes: fornecer 10 ml do produto Imuno Care, iniciando 10 a 15 dias antes da data provável de parto e estendendo o uso até 30 dias pós-parto

Potros: fornecer 5 ml do produto Imuno Care do nascimento até o desmame

Matrizes ou receptoras oriundas de outras propriedades: fazer quarentena de pelo menos 15 dias e fornecer 10 ml do produto Imuno Care, antes de misturá-las ao lote de éguas gestantes

Colaboração: MV esp. Thiago N. N. D’Angieri com Me MV Gerson Carlos S. Franceschini