Marcha Anual de Resistência do Cavalo Crioulo consagra bicampeonato de Jura do Rincão da Querência

Conjunto vencedor ano passado repete o feito em Quaraí em prova que teve até a participação de uma canadense

Foi no lombo do cavalo que 25 competidores escreveram suas histórias na 20ª edição da Marcha Anual de Resistência, realizada em Quaraí (RS) e promovida pela Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), considerada um dos pilares de seleção da raça Crioula. Contando com a rusticidade, resistência e poder de recuperação do Cavalo Crioulo, a edição dedicada a Miguel Ângelo de Freitas Dariano, “Seu Miqueco”, os quinze dias de disputa se acentuaram nos momentos finais, onde as etapas livres entraram em cena e demonstraram a potência dos animais e também daqueles que se consagraram como campeões da modalidade.

Luis Umberto Silva Rodrigues

Nos primeiros 12 dias de Marcha as etapas reguladas servem para que os competidores conheçam a estrada e seus cavalos, formulem estratégias e se preparem para a etapa final, com a chegada dos percursos livres que acontecem nos três últimos dias de competição. Na categoria Geral quem levou a primeira colocação foram dois nomes já conhecidos na modalidade que, além de ganhar na soma total dos tempos livres, também venceram em sua categoria (Éguas Maiores de 7 anos): Jura do Rincão da Querência e Luís Umberto Silva Rodrigues, o Balula, com 7 horas, 26 minutos e 55 segundos – tempo somando as três etapas livres – consagrando assim o bicampeonato do conjunto no desafio de resistência.

Já conhecido pelas suas “loucuras” em prol da modalidade, Balula demonstra muita felicidade com mais essa conquista e também pela importância que a Marcha tem em sua vida. “Eu fico extremamente contente principalmente pelo que a Marcha proporciona para a gente. Aqui eu vejo de tudo, vejo amigos, famílias, vejo pessoas seguindo o nosso trabalho e quem não traz a família, acaba formando uma aqui. Aqui todos somos família”, destaca. Além de toda a atmosfera de irmandade ele também comenta sobre sua parceira de prova “…a Jura foi quem ganhou esta prova, o prêmio é dela, é mérito dela. Nós temos uma história de parceria, nós nos conhecemos, eu entendo ela e ela me entende. Foi ela que me proporcionou chegar em primeiro lugar e agora eu vou retribuí-la com o merecido descanso”, finaliza Balula.

Uma das maiores características da Marcha de Resistência é o controle sobre o tempo e como usá-lo a seu favor. Na categoria Égua Menor de 7 Anos a administração do tempo foi crucial para que Filipe Fernandes Garcia Vaz concluísse os 750 quilômetros em primeiro lugar. Conduzindo Ipiranga da Gap São Pedro, o ginete finalizou as etapas livres com 8 horas, 52 minutos e 41 segundos, com uma diferença de 24 minutos em relação ao segundo colocado, distância que adquiriu ao monitorar o percurso e aproveitar os melhores momentos da prova.

Para ele, a tradicionalidade da modalidade dá força para aqueles que levam a Marcha como exemplo de vida. “Aqui a gente vive como se fosse o dia a dia na estância, pois é exatamente o que se faz quando transportamos tropilha para encilha. Não é fácil e nem sempre a gente consegue tudo o que quer, mas depois que entramos na modalidade não tem jeito, não saímos nunca mais”, confessa o vencedor. Depois de vencer a modalidade, ele ainda revela que possui projetos com a Ipiranga, e que deseja trazê-la para as próximas edições da Marcha: “Eu ainda quero disputar mais Marchas com ela. Vou seguir treinando e aperfeiçoando o que ela tem de melhor e com certeza vocês ainda vão ver nós dois correndo as próximas Marchas”.

Com uma trajetória promissora no universo de quem vive a Marcha de Resistência, um jovem de apenas 17 anos faz história ao concluir sua primeira participação na modalidade já alcançando o primeiro lugar do pódio. Com um exemplar que carrega o sangue marcheiro, João Pedro Sune Martins da Silva, cruzou a linha de chegada ao lado de Cedrillo La Invernada, com 8 horas, 16 minutos e 11 segundos de etapas livres. Já tendo disputado outras provas de resistência como Enduro, Marchita e Chasques (competição uruguaia), ele conta como a primeira impressão da Marcha traz uma visão diferente de quando somente acompanhava de longe. “Essa prova é completamente diferente. Foram 15 dias de altos e baixos, uma verdadeira montanha russa de emoções”, relata. Ainda, segundo ele, a Marcha carrega um importante sentimento de amizade e companheirismo: “Aqui eu fiz uma nova família. Aqui a gente se integra com todo mundo e isso faz com que a gente viva a prova. Para mim, poder correr esta prova foi um dos pontos altos da minha vida e a conexão que eu tive com o meu cavalo se provou ainda melhor do que eu esperava, realmente me surpreendeu”, concluiu João Pedro.

A canadense Sarah Anne Cuthbertson

Quem também teve a experiência de percorrer os 750 quilômetros com o Cavalo Crioulo foi a canadense de 37 anos, Sarah Anne Cuthbertson, que viajou cerca de 10 mil quilômetros para vivenciar uma das modalidades do Cavalo Crioulo. Com um estilo de vida voltado ao cavalo, conheceu a prova através de Adriana Pires Neves, doutora em Medicina Veterinária que também participa ativamente da prova. Com nacionalidade e língua diferentes, ela foi acolhida pela família crioulista, que fez com que ela se integrasse rapidamente ao mundo do Cavalo Crioulo.

Com força de vontade e apoiada naqueles que a acolheram, ela não só conseguiu vivenciar aquilo que desejava, como também subiu ao pódio, levando para o Canadá a segunda colocação na categoria Castrados, com o cavalo Almirante da Reserva do Jaguél, com 8 horas, 24 minutos e 39 segundos de etapas livres. “Foi incrível viver esta experiência. Aqui eu fiz grandes amizades e, graças à Adriana e a todos aqueles que gritavam o meu nome e vibravam enquanto percorria o trajeto, eu consegui sair vitoriosa. Foi uma vivência que desejo ter contato novamente e também quero que outras pessoas possam vir aqui e ter contato com este cavalo incrível que é o Cavalo Crioulo”, contou Sara.

Sendo realizada pela primeira vez em Quaraí, a Marcha Anual de Resistência escreveu mais uma página na história do Núcleo Quaraiense de Criadores de Cavalos Crioulos. Presidido por Thiago Ramos Saldanha, foi na entrega de prêmios que ele demonstrou todo o seu agradecimento à modalidade e vibrou com a conclusão da prova. “Confesso que estou bastante emocionado neste momento. Não tínhamos experiência nenhuma em Marcha e agora confesso que estou apaixonado. Para quem gosta de cavalo precisa vivenciar isso aqui”. Ainda durante a premiação ele agradeceu o apoio que recebeu do Sindicato Rural de Quaraí e pela Prefeitura Municipal de Quaraí, representada pelo Prefeito Jeferson da Silva Pires, que também estava presente.

Prestigiando a prova também esteve presente o vice-presidente de Provas Funcionais e Exposições Morfológicas da ABCCC, Eduardo Móglia Suñe, que comemorou a conclusão da prova e parabenizou o Núcleo pelo esforço em realizar a 20ª  edição da Marcha Anual. “Essa é uma prova diferente, que só o nosso cavalo faz, e vocês proporcionaram um verdadeiro show para a família crioulista. Parabenizo o núcleo e a comissão pela excelente prova. No fim quem saiu ganhando foi o nosso cavalo”, encerrou.

Foto: Fagner Almeida/Divulgação