#tbt Responsabilidade, trabalho voluntário e paixão pelo trote

Vamos relembrar matéria publicada na edição 18 da Revista O Trotador, publicada em novembro de 2019, com o perfil do Ebert Carvalho.**

Ebert Carvalho participando de romaria com o sobrinho, paixão pelo cavalo trotador

Quando se fala em corridas, impossível não pensar em Ebert Carvalho, uma pessoa apaixonada pelo cavalo trotador que, em pouco tempo na raça, se envolveu intensamente com as corridas e hoje é o responsável pelo handcap e montagem de páreos na maioria dos eventos realizados.

Foi subir numa charrete e dar uma volta sentindo a velocidade do cavalo trotador que Ebert Carvalho se apaixonou pela raça. A oportunidade aconteceu através de um amigo que comprou um cavalo mestiço em 2007 e convidou Ebert para um passeio, não demorando para descer da charrete e já querer adquirir seu primeiro animal, a égua nacional documentada Lilicat.

“Fui pegando gosto no cavalo de trote e comecei a me envolver cada vez mais com este meio. Comprei a égua do Sérgio Lira, um negociante de cavalos de Santa Bárbara e a partir daí fui conhecer as raias. Inicialmente, os meus cavalos ficavam na Balsa. Lembro bem da inauguração do Espaço San Marino, quando levamos seis animais meus e de amigos para correr lá”, relembra.

Empolgado com a raça, Ebert decidiu tirar um produto da sua égua e nasceu Baron, seu primeiro potro que recebeu este nome alusivo ao Stud Barão, de sua propriedade. Seguindo o cronograma, domou o animal e o manteve correndo com várias vitórias.

A partir daí Ebert não parou mais e foi convidado a entrar no grupo Amigos do Trote que organiza as corridas no Hipódromo de Viracopos. “Mesmo sem entender muito no início, procurei contato com quem estava na raça há mais tempo e numa reunião na ABCCT (Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Trotador), participei e foi decidido montar um handcap dos animais. Eles me explicaram como era possível fazer isto e me prontifiquei a iniciar o trabalho. Ficamos uns dois meses pegando os relógios de cada cavalo para poder fazer o enquadramento que usamos até hoje no handcap. A cada seis meses é feito o reenquadramento, ou seja, cavalo de 2:10 para cima entra na 5ª categoria; 2:09 é 5ª 10; 2:08 entra na 4ª categoria; 2:06 é 4ª 10; 2:05 já é 3ª; 2:03 passa 3ª 10; 2:02 é 2ª categoria; 2:00 é 2ª 10; 1:59 é 1ª; 1:58 passa 1ª 10; 1:56 é 1ª 20; e 1:55 para baixo é 1ª especial. Com este enquadramento, me prontifiquei a montar os páreos e estou até hoje nesta função. Graças a Deus, estou tendo força para continuar”.

A responsabilidade é grande e Ebert ressalta que todos os detalhes devem ser levados em consideração para não prejudicar ou favorecer um ou outro. Após os animais enquadrados em suas categorias, as vitórias e derrotas contam pontos, sendo que a cada dois pontos de vitória sobe uma categoria e a cada quatro pontos de derrota desce. Os torneios oficiais valem dois pontos e um treino oficial vale um ponto. Quando chega cavalo novo, ele estreia na categoria que saiu do seu país de origem e se estrear num Grande Prêmio tem que ser numa categoria acima.

“Sabemos que é impossível agradar a todos, mas tendo um regulamento de corridas, não tem como errar. Tendo uma ideia, para elaborar um evento com 100 animais, com uma média de 20 páreos, destes apenas 20% vai ficar contente, pois são os 20 que ganham; os 80% restantes vão criticar sempre. Mas aprendi a lidar com isto de uma forma um pouco mais tranquila, mesmo porque muitos dos que criticam não tem conhecimento de como funciona o regulamento e o handcap. Peço, educadamente, para a pessoa procurar entender, até chego explicar e já aconteceu muito comigo, das pessoas voltarem atrás e pedir desculpas. Tudo no final termina bem”, disse Ebert.

Apesar de pensar várias vezes em parar com tudo, já que é um trabalho voluntário que exige muita dedicação, Ebert está há cinco anos à frente da função e conta que nunca imaginou que conseguiria ficar tanto tempo assim. “Às vezes as críticas e ataques desanimam, sem dizer que como vivo da minha selaria, fabricação e reformas de charretes e sulkies alguns chegam a confundir as coisas. Penso bem, escuto as reclamações, tento explicar por prezar muito a amizade, ser um cara família, cristão e acabo procurando Deus para nos dar força e continuar a caminhada. Conheço várias pessoas que voltaram para a raça após a criação do handcap, por achar um sistema mais justo, então precisamos acreditar e colaborar para a raça crescer. Com um regulamento de corridas e uma equipe boa de organização, o meio só tem a crescer e aceitando o funcionamento padronizando as corridas em todas as pistas, ficando transparente para todos”.

Sempre disposto a ajudar as pistas que pedem seu apoio na formação dos páreos, Ebert conta que espera ter cada vez mais pessoas aptas a trabalhar com o handcap, assim a responsabilidade fica para uma equipe e não apenas uma única pessoa. A união faz a força, e ela é imprescindível também no cavalo trotador.

“Se todas as pistas daqui de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro elaborassem um calendário unidos seria ótimo para todo mundo e um poderia ajudar o outro em cada evento. Meu sonho na raça é poder ver o trote como antigamente, como me contam que era na Vila Guilherme, que infelizmente não conheci, mas gostaria de viver isto no futuro, tornando o cavalo de trote uma realidade como era lá atrás. Creio e tenho fé que isto ainda vou conseguir ver”, finalizou.

** matéria publicada na edição 19 da Revista O Trotador