Quinta-feira é dia de #tbt e nada melhor do que lembrar matérias publicadas em nossas edições. Hoje vamos trazer o perfil do treinador Kiko Gomes, publicada na edição 08 da Revista O Trotador.**
“Único brasileiro a ter no currículo o título de Campeão Nacional na Argentina, Francisco Gomes, ou simplesmente Kiko como todos o conhecem, é um dos treinadores e jóqueis mais premiados do país.
Em 26 anos de carreira, Kiko não imagina o número de vitórias que possui, mas tem a certeza de ser um treinador realizado, pois sabe que conquistou os principais Grandes Prêmios, Clássicos e Copas no Brasil e também na Argentina. O cavalo trotador na família Gomes é tradição que começou com o avô de Kiko e hoje já está na quarta geração, através de seus filhos que seguem sua profissão.
“Desde moleque mexo com cavalo de trote. Trabalhava com o meu pai vendendo frutas e peixes na rua com o cavalo engatado, depois que terminávamos íamos direto ao Trote para correr, e só então voltávamos para casa. No entanto, o primeiro cavalo que corri foi de galope, no Jockey Club de São Paulo. Eu era magrinho, tinha 49 kg, e fiz quatro carreiras lá, assim como o meu pai, até que um falecido amigo dele, o Demetrio Craveiro, nos convidou para conhecer o Trote e logo gostamos demais. Meu pai comprou um cavalo chamado Margô, que foi o primeiro que corri e já ganhei. Foram sete carreiras com ele invicto”, relembra o treinador.
Com a paixão cada vez maior pelo Trote, a profissionalização de Kiko foi algo que aconteceu naturalmente. Em 1990, o pai pediu autorização para ele começar a correr cavalos aos 17 anos de idade e assim todos os trâmites foram feitos, iniciando os treinamentos. “Aí não parei mais e estou até hoje”!
Apesar de no início achar difícil a lida com o cavalo trotador, a experiência de seu pai ajudou muito o seu trabalho como treinador e, querendo buscar sempre o melhor, Kiko começou a ir para a Argentina em 94, se envolvendo cada vez mais no meio. Logo já estava trazendo animais e também competindo por lá.
“O título mais marcante até agora em minha vida aconteceu em 2010, quando venci o Nacional na Argentina com o cavalo C.K. Orlando. Por aqui ganhei muita coisa, trabalhei destacados animais e não dá para imaginar quantos títulos possuo na carreira. Teve até uma época no Trote que através das estatísticas tínhamos uma ideia. Cheguei a ganhar muitas vezes com uma média de 185 vitórias. Entre os maiores ganhadores estávamos sempre eu, o Rami Nasser e o falecido Perninha. Tínhamos muitos cavalos para correr, além da cocheira do meu pai, eu peguei uma só para mim e eram muitas carreiras”, conta.
A primeira participação de Kiko em um GP Nacional na Argentina aconteceu em 2008, quando foi finalista e ficou com a terceira colocação com o animal Albion Whatapacer Uadizal. “Eu comprei este cavalo só para poder correr pela primeira vez o Nacional. Consegui classificar em segundo lugar para a final e fiquei em terceiro na colocação geral. Em 2009, fui passear na Argentina e num Clássico que assisti vi o Orlando numa revista. Na hora liguei para o Diogo para podermos compra-lo e junto ao Português e o Henrique adquirimos o animal. Quando fui junto ao Marcelo Devia buscá-lo, sofremos um acidente feio, quase morremos, mas tudo acabou dando certo. Levamos o Orlando para Hurlingham e lá o treinamos até o Nacional. Ele ficou 14 carreiras invicto e perdi uma com ele quando estourou o varal do meu sulky”, relembra.
C.K. Orlando foi o animal que mais marcou a carreira de Kiko. Com ele ganhou o Nacional, Rei da Milha o Sulamericano, além de muitos outros GPs e Clássicos na Argentina. Depois ele veio para o Brasil onde também registrou várias vitórias até falecer no ano passado. “Um fato ainda mais marcante com o Orlando foi a quebra de recorde da pista de Hurlingham na classificatória da Nacional marcando promedio de 1:12.01; e no dia seguinte, na final, quebrei o próprio recorde dele com 1:11.09”.
No ano passado Kiko voltou a participar da final do Nacional na Argentina, desta vez com o animal Mancun, de sua propriedade em sociedade com Diogo Batista e Henrique Rodrigues Vieira, ficando com a terceira posição. Se vai participar este ano, Kiko ainda não sabe, mas ressalta que está de olho em alguns animais por lá, caso consiga adquirir, com certeza estará presente na disputa mais um ano.
“Sou respeitado na Argentina e tenho grandes amigos lá, como o Daniel Brandalise, um dos maiores jóqueis e treinadores de lá. Também agradeço muito ao Aldito (Aldo Diane), do Haras Albion, que me ajudou muito por lá”, disse Kiko.
No Brasil também são muitos os títulos do treinador e joquei Kiko, um dos principais foi o Jubileu de Ouro, que acontece a cada 50 anos, conquistado com o animal Chimarron, no final dos anos 90. Neste ano, com o cavalo Mancun, Kiko conquistou o título da 5ª Copa dos Campeões, conforme trazemos em matéria nesta edição. É o segundo título dele na Copa, sendo que o primeiro foi com o animal Stow Ton, na terceira edição da competição.
“Não posso reclamar. Tudo o que quis no Trote eu consegui. O meu maior sonho era ganhar o Nacional na Argentina, o que aconteceu, agora minha meta é manter o nível daqui para a frente. No momento não tenho sonhos a realizar, pode ser que surjam novos, mas por enquanto, sou realizado. Quero ir para os Estados Unidos passear e conhecer as corridas lá além de também ter a vontade de ter um cavalo americano, então, para isto, o jeito é trabalhar, lutar, que um dia ele chega”, finalizou o treinador.”
** matéria publicada na edição 08 da Revista O Trotador, em julho 2016