#tbt Ademir Gouveia: prazer junto aos cavalos

O #tbt desta semana traz o perfil do criador Ademir Gouveia, publicado na edição 11 da Revista O Trotador, em julho de 2017*. Vamos relembrar?

“Mais conhecido como ‘Pai’, Ademir Gouveia tem o cavalo no sangue e há 15 anos é titular do Stud Rancho do Pai. Desde pequeno buscando situações que o deixassem perto dos animais que tanto ama, ele relembra a época em que deixava todo o seu salário de impressor com os cavalos e sua trajetória até aqui quando se transformou em criador de american trotter e proprietário de vários animais de destaque.

Desde criança, Ademir tem contato com cavalos e o gosto pelos animais vem de família, já que seu pai, seu tio e o irmão mais velho sempre tiveram animais para o trabalho e também romarias. Morador da zona norte paulista, Ademir sempre fazia questão de ir à Sociedade Paulista de Trote, na Vila Guilherme, onde limpava cocheiras para estar junto aos animais.

“Tinha muita amizade com o seu Ameriquinho, o seu Basílio, o Rami, e com eles fui criando ainda mais amor pelos cavalos. Apesar da minha vontade de querer ter cavalos de corrida, não tinha condições para isto, então eu limpava as cocheiras para pelo menos poder ter meu cavalinho e andar de charrete. A primeira égua American Trotter que tive foi para o seu Chiquinho, pai do Kiko. Comprei-a com meu salário de impressor, quando trabalhava no Estadão, e todo salário que ganhava eu depositava na conta do seu Antônio Camara, de quem comprei a égua. O Rodrigo, meu filho, era pequeno, e me virava com minha ex-mulher para poder dar conta de tudo. Não tinha condições de manter a égua no trote, então, fazíamos brincadeiras de rua com ela”, relembra Pai.

Gostando de qualidade, Ademir ressalta que ainda jovem sempre fez questão de ter sua charrete Miquelino e o seu carrinho do Zelão, que não usava solda e era feito tudo na forja, pois tudo que ganhava colocava no cavalo. “Eu nasci e criei numa casa, mas quando casei fui morar no meu barraco, feito de madeirit, e na frente, onde era a garagem para o meu carro, fiz as cocheiras, para meus cavalos. Cheguei a ter 19 cocheiras ali e assim comecei”.

Após ficar um período fora do meio equestre, Pai decidiu voltar, já com uma estrutura melhor e o seu primeiro cavalo adquirido foi Albion Wit Stat White, que comprou para começar a correr no Bubucão, já que a Vila Guilherme havia fechado. “Fui voltando devagar, mas com toda vontade. Conheci o Marcão, do San Marino, que hoje é um grande amigo, e que me convidou para ir para lá, onde ficamos por um bom tempo até pegar um pavilhão inteiro aqui na Sociedade Paulista de Trote, em Piracaia”.

O Stud Rancho do Pai surgiu há 15 anos, quando Ademir comprou uma chácara em Francisco Morato e o treinador André Dezinho chegou para trabalhar no local. “Por eu ser Pai de santo, todo o pessoal me chamava de Pai, ai o André falou que não tinha como dar outro nome a não ser Rancho do Pai e assim ficou. Muita gente hoje nem sabe que chamo Ademir, mas Pai todo mundo conhece. Desde então, o Dezinho treina meus animais e é um filho mais velho para mim”.

Dentre os animais que marcaram a trajetória de Ademir na raça, ele não titubeia em falar: Sislei Catlo Africano, um animal que comprou do Magrão (Gerson Bianchi), em 5ª categoria e chegou à 1ª forte, que proporcionou muitos troféus para o Rancho do Pai. “Teve o Intelibre também que nos deu muita alegria, mas o Africano foi diferente e está comigo no sítio, como garanhão, até hoje. É meu xodó, não vendo por preço algum”,  continuou.

E o Stud Rancho do Pai também tem éguas de destaque, sendo Mara, a principal delas. Rainha da Milha, campeã Nacional de Éguas e também reservada campeã da Copa das Campeãs, é outro destaque do Stud junto à Felen.

Hoje no Pavilhão do Trote Ademir tem quatro animais – Mara, Felen, Mistico e Spy Nill – sendo que ainda tem mais animais em seu sítio, na cidade de Corumbataí, para levar ao trote.

Criação

Há cerca de cinco anos, Ademir iniciou sua criação. Com 22 cocheiras de alvenaria no sítio e a aquisição de 11 éguas, a criação foi uma consequência. Tendo inicialmente o Africano como reprodutor, o Rancho iniciou produção e há dois anos adquiriu junto ao Marcos San Marino, o importado Wearable Arts, do qual também tirou produtos e depois vendeu sua parte para o sócio.

“Já vendi bastante e, com o Africano, temos um filho dele com a Federal que está com o Franquinho em fase de doma. Nossas expectativas são as melhores, pois se ele puxar o pai e um pouco da mãe, não tem para ninguém. Hoje tenho três filhos do Wearable em casa, já para completar dois anos, para estrear ano que vem nas pistas. E não tem como, falando como criador, é emocionante ver um filho de um cavalo que só lhe deu alegrias, estar suprindo esta necessidade. Por isto me tornei criador”, conta.

Para Ademir, os cavalos são seu remédio para tirar todo tipo de stress ou depressão que possa surgir. Sua alegria é estar junto a eles e toda quarta-feira faz questão de ir a Piracaia com os filhos que sempre o acompanham para reunir-se com os amigos e preparar uma boa comida ou churrasco. “Quando adquirimos o pavilhão, reformei tudo, porque gosto de cozinhar, e quando nos reunimos aqui, preparamos sempre alguma coisa. Também gostamos de participar dos eventos em outras cidades, como os que aconteceram em Minas, Ribeirão e Rio de Janeiro. Se eles acontecem de domingo, dá para eu ir, gosto de levar meus animais e buscar ainda mais alegrias”.

Apesar dos filhos o acompanharem sempre, Ademir conta que eles não têm o mesmo amor que ele pelos cavalos. “Para mim, posso ficar doente sem os cavalos e a cura é estar com eles. Três vezes por ano, em março, agosto e novembro, fazemos uma Romaria para Aparecida e ai sim meus filhos vão cada um com seu engate, quem sabe no dia de amanhã, eles poderão estar joqueando também”.

O criador afirma que não existe um sonho a realizar, pois em sua opinião as corridas não são apenas os cavalos e sim o importante que é saber competir, seja em 1ª, 2ª, ou 3ª. É ter o prazer de vê-los correndo, sabendo competir, porque os gastos que têm não pagam os prêmios que ganham.

“Não tenho um sonho, mas vamos gostar de ver um cavalo de nossa criação chegar em primeira, com certeza pode ser uma alegria grande. Mas já me contento em estar com os amigos neste meio, que é maravilhoso!”, finalizou.”

*matéria publicada em julho de 2017 na Revista O Trotador