O verão chega e, junto com ele, infelizmente as moscas! Além da perturbação diária que elas podem gerar, existe um problema comum no meio equestre que causa grandes prejuízos na criação nacional: a Habronemose Cutanea.
Doença causada pelas larvas do nematóide Habronema spp que normalmente faz o ciclo gastroentérico nos equinos, e na enfermidade em questão, há a realização do ciclo errático do agente.
Conhecida também como Ferida de Verão, a doença tem como vetor as ‘’Mosca Doméstica’’ e ‘’Mosca do Estábulo’’, e por este motivo, é grande a ocorrência nas épocas mais quentes do ano, pelo fato de o ambiente favorecer a proliferação destes insetos.
As fêmeas do Habronema liberam seus ovos pelas fezes, que no meio ambiente se transformarão em larvas, chamadas de L1. Estas, por sua vez, são ingeridas por larvas das moscas, as quais também vivem no estrume dos animais. Sendo assim, há o desenvolvimento da mosca juntamente com a larva do Habronema.
Por fim, em cerca de duas semanas, há o desenvolvimento completo da mosca, com a larva do Habronema já em potencial infectante, chamada de L3. A doença se instala no equino a medida que as moscas depositam estas larvas principalmente em feridas pré-existentes.
Sintomas
As lesões são mais comumente vistas em locais expostos à traumatismos que consequentemente apresentam maiores chances de ter feridas e em locais onde o cavalo não consegue espantar as moscas, deixando assim a porta de entrada para o Habronema. Portanto, aparecem em extremidades de membros, pálpebra, pescoço, prepúcio, pênis/glande, sendo que este último pode levar à dificuldade do equino em urinar.
Localmente, há uma irritação tecidual com proliferação de tecido de granulação, ou seja, uma espécie de tecido cicatricial exuberante, além de formação de pápulas inicialmente, que em poucos meses crescem e se transformam em nódulos bastante evidentes podendo evoluir para úlceras.
As lesões têm características na cor castanho avermelhado que depois de um longo tempo de evolução, chegam a se tornar fribróticas. Na maioria das vezes as lesões são únicas e geralmente não apresentam prurido, a não ser que haja infeção secundária por bactérias.
São bastante perceptíveis aos olhos dos proprietários pelo fato de que dificilmente cicatrizam sozinhas, levando à necessidade de um tratamento junto ao Médico Veterinário.
Diagnóstico
A identificação das feridas e o diagnóstico preciso para Habronemose, se dá de forma simples, através do exame de um Médico Veterinário, realizando um raspado cutâneo ou biópsia da ferida e posteriormente um exame histopatológico para identificação das larvas.
Tratamento
Existem dois tipos de tratamentos possíveis para o caso. O tópico e o cirúrgico. Esta segunda opção é considerada pelo Médico Veterinário quando se trata de uma ferida que não cicatriza e/ou que já evoluiu para nódulos calcificados, impossibilitando assim o tratamento efetivo de forma tópica.
Nestes casos, recomenda-se a excisão cirúrgica da lesão, ou métodos alternativos como crioterapia, que tem como princípio a ação de temperaturas abaixo de zero para a retirada do tecido, cauterização química com sulfato de zinco ou também radioterapia.
O tratamento medicamentoso é feito com organfosforados como o Triclorfon 22mg/kg, intravenoso, diluído em solução salina ou de dextrose, repetido em 2 semanas.
É dado ao animal também, Ivermectina, tida como tratamento de escolha para combater o nematóide.
Topicamente, o tratamento leva certo tempo, e baseia-se em aplicações regionais nas lesões de Triclorfon por pelo menos 15 dias. Além disso, pode-se usar corticoides de curta ação (àqueles que ficam por pouco tempo no organismo do equino) para que auxiliem na diminuição da irritação local e pomadas antibióticas para evitar a infecção bacteriana secundária.
Para a remoção do tecido necrótico formado, é utilizada a aplicação de Albocresil ou limpeza da ferida com solução de Dakin.
Prevenção e Controle
O método mais eficaz para prevenir que ocorram as feridas de verão, é o acompanhamento dos equinos, evitando que se machuquem. Além disso, é essencial que haja o tratamento correto para as demais feridas e que estas sejam cobertas, evitando que moscas não depositem suas larvas, levando possivelmente à lesões mais graves como é o caso da Habronemose.
Estes cuidados devem se tornar mais intensos principalmente durante o verão, onde há grande proliferação de moscas, as quais devem ser controladas.
Os animais afetados e seus contactantes devem ser vermifugados e tratados com repelentes caso haja feridas abertas pelo corpo.
Prognóstico
Mediante identificação do problema de forma precoce e tratamento correto juntamente com acompanhamento veterinário, os cavalos acometidos costumam responder bem aos métodos curativos, embora leve certo tempo para cura total.
Colaboração: André Hernandez, médico veterinário com a colaboração da Clínica de Equinos Itapema (11) 940202080 / 995281710 (Nathália Cardoso de Souza, Rachel Campbell Worthington e Hélio Luiz de Itapema Cardoso)
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