Lombalgias: dor nas costas dos equinos

As lombalgias são uma das causas mais importantes para a queda de desempenho atlético em equinos. O tamanho e a anatomia funcional complexa, em conjunto com a alta exigência da coluna vertebral toracolombar dos equinos na prática das modalidades atléticas, os predispõem a lesões que podem levar à dor crônica e disfunções locomotoras.

A coluna toracolombar é composta por 18 vértebras torácicas, seis vértebras lombares e cinco vértebras sacrais fundidas (vide figura 1). Alguns equinos possuem variações congênitas nas articulações cervicotorácicas, toracolombares e lombossacras, sendo a mais comum a fusão da última vértebra lombar com a primeira sacral, conhecida como sacralização da sexta vértebra lombar.

A coluna vertebral é movimentada por músculos potentes os músculos epaxiais e hipopaxiais. Os músculos epaxiais localizados dorsalmente ao eixo vertebral, são responsáveis pela dorsoflexão quando contraídos bilateralmente. Os músculos epaxiais incluem o músculo espinhoso, músculo longuíssimo dorsal, músculo iliocostal e músculo multífidus.

Os músculos hipaxiais, localizados ventralmente ao eixo vertebral, agem sobre a ventroflexão quando contraídos bilateralmente Os músculos hipaxiais incluem o músculo psoas menor e maior e músculo reto oblíquo. 

Algumas afecções causadoras das dores nas costas (lombalgias) nos equinos são:

1- SOBREPOSIÇÃO DOS PROCESSOS ESPINHOSOS OU “KISSING SPINES

Esta é a enfermidade mais conhecida da região toracolombar do eqüino, sendo considerada uma síndrome, por envolver diversos tipos de lesões. A localização mais comum de ocorrência deste tipo de lesão é no segmento de coluna entre T10 e T18, no entanto, pode ocorrer entre L1 e L6. O remodelamento ou fraturas por avulsão da porção dorsal dos processos espinhosos reflete uma lesão de inserção do ligamento supraespinhoso.

A sobreposição dos processos espinhosos é uma condição onde ocorre uma orientação anormal dos processos espinhosos. O contorno na porção média dos processos espinhosos pode estar alterado devido a formação de entesófitos na inserção do ligamento interespinhoso. O diagnóstico destas lesões é feito por meio do exame radiográfico, mas o exame ultra-sonográfico é útil na averiguação da existência de desmites supra e interespinhosas concomitantes.

Kissing spines” pode ser encontrada em equinos atletas sem manifestações de lombalgia. Desta forma, o significado clínico desta alteração deve ser cuidadosamente analisado. Os achados radiográficos devem ser relacionados com o exame físico e à resposta aos bloqueios anestésicos. A presença desta lesão deve ser investigada em animais que apresentam uma diminuição da mobilidade da região torácica e toracolombar, em animais que praticam modalidades esportivas que predispõem ao aparecimento desta lesão, como o salto e em animais da raça Puro Sangue Inglês, pois estes apresentam processos espinhosos mais longos.

2- DESMITE SUPRAESPINHOSA

Lesões do ligamento supra espinhoso ocorrem geralmente entre T15 e L3 e podem ser associadas com aumento de volume local e dor à palpação. Estas lesões ocorrem geralmente sobre os processos espinhosos, podendo se estender entre dois processos adjacentes e são diagnosticadas por meio da ultra-sonografia. O aumento de volume local do ligamento produz uma deformação dorsal da região toracolombar, a qual pode ser examinada pela ultra-sonografia. Lesões hipoecóicas no ligamento são compatíveis com desmite aguda ou crônica; já focos hiperecóicos, com ou sem sombras acústicas podem ser vistos no caso de desmopatia crônica. Desmopatias de inserção (entesopatias) podem ser identificadas por irregularidades na superfície dorsal dos processos espinhosos. Devendo-se observar a presença de áreas com alterações de ecogenicidade e de orientação de fibras.

Lesões no ligamento supraespinhoso causam dor no animal no momento da ventroflexão, onde há um aumento da tensão sobre esta estrutura, sendo prejudicial em animais que praticam modalidades esportivas que exigem uma posição de ventroflexão constante, como nas provas de apartação.

3- OSTEOARTRITE INTERVERTEBRAL

As articulações intervertebrais sinoviais formadas pelos processos articulares estão localizadas dorsalmente ao canal vertebral e são compostas pelo processo articular caudal de uma vértebra, espaço articular e pelo processo articular cranial da vértebra imediatamente caudal.

Os seguintes achados radiográficos podem ser associados à osteoartrite dos processos articulares nos equinos: assimetria, modificação da radiopacidade do processo articular, áreas radioluscentes no osso subcondral, proliferação peri-articular, proliferação ventral, anquilose, osteólise das articulações intervertebrais e  fraturas. Estes achados são encontrados na maioria das vezes na articulação toracolombar e na região lombar.

 As manifestações clínicas mais comuns desta lesão são: dor na musculatura epaxial, principalmente lombar; diminuição da amplitude de movimento da articulação lombossacra; tensão da musculatura abdominal e diminuição da amplitude da passada dos membros posteriores (galope de lebre).

4- LESÃO DE CORPOS E DISCOS VERTEBRAIS

Lesões de corpo vertebral são pouco comuns em eqüinos e não podem ser observadas por meio da ultra-sonografia na região toracolombar, a não ser caudalmente a L4, por meio do acesso transretal, sendo a radiografia a técnica diagnóstica de escolha. Dentre as lesões se incluem: proliferações ventrais, ventrolaterais ou laterais (espondilose vertebral); deformações do corpo vertebral; deformação da cabeça e fossa da vértebra adjacente (entesopatia 
de disco).

A presença de espondiloses em uma ou mais vértebras pode acarretar a compressão de ramos nervosos pela diminuição no diâmetro dos forames intervertebrais. Anquiloses podem predispor a ocorrência de fraturas, pela redução da capacidade vertebral de absorção e transferência das forças de locomoção. Fraturas e luxações das vértebras lombares geralmente resultam em sinais neurológicos, mas ocasionalmente podem ocorrer sinais intensos de dor aguda, com rápida atrofia da musculatura epaxial.

O exame clínico da região toracolombar dos eqüinos é importante para determinar se há dor, sua localização e as possíveis lesões presentes (vide figura 2), sendo de grande importância a avaliação do eqüino como um todo, para identificar problemas em potencial que possam estar contribuindo para a claudicação e/ou queda de performance

Dependendo da etiologia da afecção lombálgica, os possíveis meios para o tratamento podem ser através de aplicação sistêmica de antiinflamatórios não hormonais (AINEs), infiltrações locais, acupuntura, fisioterapia, manejo no treinamento e cirurgia.

A modificação do programa de treinamento é uma parte essencial do manejo das lombalgias. Os objetivos desta modificação são evitar a atrofia muscular e desenvolver o controle proprioceptivo toracolombar e estabilidade vertebral.

Dentre as recomendações gerais se incluem:

• Conferir a sela, pois selas mal ajustadas causam dor e desconforto ao animal, prejudicando sua performance e podendo causar lesões toracolombares. É bom lembrar que as selas são confeccionadas individualmente para cada cavalo, levando em consideração a sua conformação anatômica. 

• Treinamento progressivo em animais jovens, pois os animais se encontram maduros fisicamente somente aos 4 a 5 anos. Sendo assim, animais jovens podem se lesionar mais facilmente com uma rotina de treinamento similar a de um animal adulto.

• Aquecimento progressivo, iniciando em piso macio sem sela e depois com a sela, para aquecer devidamente a musculatura de todo aparelho locomotor.

• Após o aquecimento, trabalhar em cânter (galope curto) antes do trote, pois no cânter a coluna realiza apenas um movimento de dorso-ventroflexão ativo por passada, enquanto no trote a coluna realiza esse movimento duas vezes, de forma passiva, o que desfavorece o aquecimento da musculatura toracolombar.

• Identificar e remover exercícios que causem desconforto ao animal. Estes podem ser identificados pela presença de espasticidade muscular anormal durante sua realização.

Alguns exercícios podem ser incluídos na rotina de aquecimento do animal, tais como a flexão cervical, pois esta induz a flexão torácica associada, forçando a separação dos processos espinhosos entre outros.

Colaboração: Roberto Delort, médico veterinário. Tel (11) 99989-7629 / (11) 45868400. Ref : revistasusp

As lombalgias são uma das causas mais importantes para a queda de desempenho atlético em equinos. O tamanho e a anatomia funcional complexa, em conjunto com a alta exigência da coluna vertebral toracolombar dos equinos na prática das modalidades atléticas, os predispõem a lesões que podem levar à dor crônica e disfunções locomotoras.

A coluna toracolombar é composta por 18 vértebras torácicas, seis vértebras lombares e cinco vértebras sacrais fundidas (vide figura 1). Alguns equinos possuem variações congênitas nas articulações cervicotorácicas, toracolombares e lombossacras, sendo a mais comum a fusão da última vértebra lombar com a primeira sacral, conhecida como sacralização da sexta vértebra lombar.

A coluna vertebral é movimentada por músculos potentes os músculos epaxiais e hipopaxiais. Os músculos epaxiais localizados dorsalmente ao eixo vertebral, são responsáveis pela dorsoflexão quando contraídos bilateralmente. Os músculos epaxiais incluem o músculo espinhoso, músculo longuíssimo dorsal, músculo iliocostal e músculo multífidus.

Os músculos hipaxiais, localizados ventralmente ao eixo vertebral, agem sobre a ventroflexão quando contraídos bilateralmente Os músculos hipaxiais incluem o músculo psoas menor e maior e músculo reto oblíquo. 

Algumas afecções causadoras das dores nas costas (lombalgias) nos equinos são:

1- SOBREPOSIÇÃO DOS PROCESSOS ESPINHOSOS OU “KISSING SPINES

Esta é a enfermidade mais conhecida da região toracolombar do eqüino, sendo considerada uma síndrome, por envolver diversos tipos de lesões. A localização mais comum de ocorrência deste tipo de lesão é no segmento de coluna entre T10 e T18, no entanto, pode ocorrer entre L1 e L6. O remodelamento ou fraturas por avulsão da porção dorsal dos processos espinhosos reflete uma lesão de inserção do ligamento supraespinhoso.

A sobreposição dos processos espinhosos é uma condição onde ocorre uma orientação anormal dos processos espinhosos. O contorno na porção média dos processos espinhosos pode estar alterado devido a formação de entesófitos na inserção do ligamento interespinhoso. O diagnóstico destas lesões é feito por meio do exame radiográfico, mas o exame ultra-sonográfico é útil na averiguação da existência de desmites supra e interespinhosas concomitantes.

Kissing spines” pode ser encontrada em equinos atletas sem manifestações de lombalgia. Desta forma, o significado clínico desta alteração deve ser cuidadosamente analisado. Os achados radiográficos devem ser relacionados com o exame físico e à resposta aos bloqueios anestésicos. A presença desta lesão deve ser investigada em animais que apresentam uma diminuição da mobilidade da região torácica e toracolombar, em animais que praticam modalidades esportivas que predispõem ao aparecimento desta lesão, como o salto e em animais da raça Puro Sangue Inglês, pois estes apresentam processos espinhosos mais longos.

2- DESMITE SUPRAESPINHOSA

Lesões do ligamento supra espinhoso ocorrem geralmente entre T15 e L3 e podem ser associadas com aumento de volume local e dor à palpação. Estas lesões ocorrem geralmente sobre os processos espinhosos, podendo se estender entre dois processos adjacentes e são diagnosticadas por meio da ultra-sonografia. O aumento de volume local do ligamento produz uma deformação dorsal da região toracolombar, a qual pode ser examinada pela ultra-sonografia. Lesões hipoecóicas no ligamento são compatíveis com desmite aguda ou crônica; já focos hiperecóicos, com ou sem sombras acústicas podem ser vistos no caso de desmopatia crônica. Desmopatias de inserção (entesopatias) podem ser identificadas por irregularidades na superfície dorsal dos processos espinhosos. Devendo-se observar a presença de áreas com alterações de ecogenicidade e de orientação de fibras.

Lesões no ligamento supraespinhoso causam dor no animal no momento da ventroflexão, onde há um aumento da tensão sobre esta estrutura, sendo prejudicial em animais que praticam modalidades esportivas que exigem uma posição de ventroflexão constante, como nas provas de apartação.

3- OSTEOARTRITE INTERVERTEBRAL

As articulações intervertebrais sinoviais formadas pelos processos articulares estão localizadas dorsalmente ao canal vertebral e são compostas pelo processo articular caudal de uma vértebra, espaço articular e pelo processo articular cranial da vértebra imediatamente caudal.

Os seguintes achados radiográficos podem ser associados à osteoartrite dos processos articulares nos equinos: assimetria, modificação da radiopacidade do processo articular, áreas radioluscentes no osso subcondral, proliferação peri-articular, proliferação ventral, anquilose, osteólise das articulações intervertebrais e  fraturas. Estes achados são encontrados na maioria das vezes na articulação toracolombar e na região lombar.

 As manifestações clínicas mais comuns desta lesão são: dor na musculatura epaxial, principalmente lombar; diminuição da amplitude de movimento da articulação lombossacra; tensão da musculatura abdominal e diminuição da amplitude da passada dos membros posteriores (galope de lebre).

4- LESÃO DE CORPOS E DISCOS VERTEBRAIS

Lesões de corpo vertebral são pouco comuns em eqüinos e não podem ser observadas por meio da ultra-sonografia na região toracolombar, a não ser caudalmente a L4, por meio do acesso transretal, sendo a radiografia a técnica diagnóstica de escolha. Dentre as lesões se incluem: proliferações ventrais, ventrolaterais ou laterais (espondilose vertebral); deformações do corpo vertebral; deformação da cabeça e fossa da vértebra adjacente (entesopatia 
de disco).

A presença de espondiloses em uma ou mais vértebras pode acarretar a compressão de ramos nervosos pela diminuição no diâmetro dos forames intervertebrais. Anquiloses podem predispor a ocorrência de fraturas, pela redução da capacidade vertebral de absorção e transferência das forças de locomoção. Fraturas e luxações das vértebras lombares geralmente resultam em sinais neurológicos, mas ocasionalmente podem ocorrer sinais intensos de dor aguda, com rápida atrofia da musculatura epaxial.

O exame clínico da região toracolombar dos eqüinos é importante para determinar se há dor, sua localização e as possíveis lesões presentes (vide figura 2), sendo de grande importância a avaliação do eqüino como um todo, para identificar problemas em potencial que possam estar contribuindo para a claudicação e/ou queda de performance

Dependendo da etiologia da afecção lombálgica, os possíveis meios para o tratamento podem ser através de aplicação sistêmica de antiinflamatórios não hormonais (AINEs), infiltrações locais, acupuntura, fisioterapia, manejo no treinamento e cirurgia.

A modificação do programa de treinamento é uma parte essencial do manejo das lombalgias. Os objetivos desta modificação são evitar a atrofia muscular e desenvolver o controle proprioceptivo toracolombar e estabilidade vertebral.

Dentre as recomendações gerais se incluem:

• Conferir a sela, pois selas mal ajustadas causam dor e desconforto ao animal, prejudicando sua performance e podendo causar lesões toracolombares. É bom lembrar que as selas são confeccionadas individualmente para cada cavalo, levando em consideração a sua conformação anatômica. 

• Treinamento progressivo em animais jovens, pois os animais se encontram maduros fisicamente somente aos 4 a 5 anos. Sendo assim, animais jovens podem se lesionar mais facilmente com uma rotina de treinamento similar a de um animal adulto.

• Aquecimento progressivo, iniciando em piso macio sem sela e depois com a sela, para aquecer devidamente a musculatura de todo aparelho locomotor.

• Após o aquecimento, trabalhar em cânter (galope curto) antes do trote, pois no cânter a coluna realiza apenas um movimento de dorso-ventroflexão ativo por passada, enquanto no trote a coluna realiza esse movimento duas vezes, de forma passiva, o que desfavorece o aquecimento da musculatura toracolombar.

• Identificar e remover exercícios que causem desconforto ao animal. Estes podem ser identificados pela presença de espasticidade muscular anormal durante sua realização.

Alguns exercícios podem ser incluídos na rotina de aquecimento do animal, tais como a flexão cervical, pois esta induz a flexão torácica associada, forçando a separação dos processos espinhosos entre outros.

Colaboração: Roberto Delort, médico veterinário. Tel (11) 99989-7629 / (11) 45868400. Ref : revistasusp