Comum com a chegada da primavera, devidos aos fatores climáticos favoráveis, a estação de monta acontece neste período e também é a época em que concentram-se os nascimentos dos potros.
O manejo com os neonatos, como a cura do umbigo, é de suma importância para prevenção de doenças e para integridade dos mesmos.
Outro fator essencial para que o potro cresça sadio é que ele receba imunidade através dos anticorpos passados pela sua mãe através do colostro, que a égua produz nos primeiros dias após o parto, porém esta proteção materna pode ser fatal ao recém-nascido. Isto devido a Icterícia Hemolítica do Neonato, enfermidade também conhecida como isoeritrólise neonatal, que é uma anemia hemolítica resultante da isoimunização da égua contra hemácias do potro durante a gestação, à semelhança da icterícia do recém-nascido por problema de Rh no homem.
A doença ocorre por meio da ativação do sistema imunitário da égua por antígenos provenientes das hemácias do feto. Difere, no entanto, no fato de que os cavalos não possuem fator Rh, mas pode ser atribuído a 2 ou 3 outros fatores sanguíneos. Também difere da doença do fator Rh na espécie humana na qual crianças são acometidas mesmo antes do nascimento, ao passo que o potro não é acometido até que ele mame o colostro da sua mãe. O potro não é afetado ao nascer, pois os anticorpos da mãe não são capazes de atravessar a placenta e atingir o potro, enquanto que os anticorpos da espécie humana possuem a propriedade de se transferirem para o feto pela placenta. A afecção é causada pela absorção pelo potro de anticorpos produzidos pela sua mãe e secretados no seu colostro. Esses anticorpos destroem os eritrócitos do potro. A destruição deles causa anemia e, se for severa demais, icterícia.
Potros afetados são normais ao nascimento, mas podem absorver quantidades perigosas de isoanticorpos do colostro através do trato gastrointestinal, por até 36h.
Isoeritrólise neonatal, clinicamente reconhecível, raras vezes ocorre em potros de éguas primíparas (égua de primeira cria) e, em geral, não é observada até a égua ter o seu terceiro ou quarto potro.
A maneira com que os antígenos atravessam a barreira placentária não está bem determinada, havendo, porém, a possibilidade de ocorrer através de pequenas lesões ou descolamentos aclínicos da placenta, no terço final da gestação, uma vez que os anticorpos da mãe em condições de higidez gestacional não causariam nenhum dano ao feto, em razão da impossibilidade de transferência transplacentária.
Está descrito nas fontes consultadas que a isoeritrólise neonatal pode ocorrer somente quando o potro e seu pai possuírem um fator sanguíneo ausente na égua. Porém com a técnica de transferência de embriões, que é largamente usada hoje em dia, o fator sanguíneo da doadora do embrião pode estar ausente na receptora, e ser herdado pelo potro, o que também levará a isoeritrólise neonatal mesmo o garanhão sendo compatível com a receptora.
Apesar de a eritrólise neonatal ocorrer em potros de qualquer raça, é mais observada em puros-sangues e mulas.
A gravidade da anemia varia consideravelmente, dependendo da quantidade e tipos de isoanticorpos consumidos. Os isoanticorpos hemolíticos são os mais lesivos, e os maiores títulos existem no primeiro leite colostral; consequentemente os potros que mamam vigorosamente ao nascer podem ser os mais severamente afetados.
Sinais da doença podem se manifestar de 8h a 5 dias após o nascimento. Observam-se letargia, icterícia, dispnéia, batimentos cardíacos fortes e, em casos severos, hemoglobinúria. Os potros passam muito tempo deitados e os que estão severamente afetados não conseguem se levantar. Eles mamam infrequentemente e por períodos curtos. A conjuntiva, esclera e mucosas tornam-se gradativamente ictéricas em potros seriamente afetados. Os números de hemácias variam de , 2 a 4 × 106/µL(2 a 4 × 1012/L) e elas tendem a formar grumos no próprio plasma. Potros com este nível de eritrócitos nas primeiras 24h exigem tratamento.
Em caso de parto assistido, um teste de lâmina para determinar se essa condição ocorrerá pode ser conduzido ao se misturar 1 gota de sangue do coto umbilical do potro com quatro gotas de solução salina 0,9% e 5 gotas do colostro da égua em um lâmina de vidro limpa. Se a aglutinação verdadeira ocorrer dentro de aproximadamente 5 minutos, então a doença ocorrerá se o potro ingerir esse colostro. Este procedimento permite, que as providências possam ser tomadas para a substituição do colostrode éguas não imunizadas, ou para que o aleitamento do potro seja artificial.
Neste caso, a mãe do potro deve ser ordenhada a cada 2 horas durante para que se esgote o colostro, e 500 ml de colostro de outra égua deve ser fornecido cada 1 a 2 horas por 3 a 4 vezes aos dia, e então um substituto de leite deve ser usado como alimento sendo dado com uma mamadeira até que o potro tenha 36 horas de vida e mantê-lo tão quieto quanto possível. Mantenha o potro em uma baia e minimize assim todo tipo de estresse. Após essa idade o neonato não é capaz de absorver os anticorpos colostrais, portanto, mesmo se os anticorpos antieritrócitos forem ingeridos após essa idade, eles não são mais nocivos e ele pode mamar na mãe e ser criado no esquema usual.
Para os potros que não foram seriamente afetados, cuidados ordinários acompanhados de antibióticos e restrição de exercício pela primeira semana geralmente resultam em recuperação. A transfusão de sangue é o único método conhecido para se salvar um potro seriamente anêmico. Nem o sangue íntegro da mãe, nem o do pai, podem ser usados nas transfusões, uma vez que contêm o anticorpo hemolítico. Um doador compatível é difícil de ser encontrado e deve ser selecionado para eritrócitos que não sejam aglutinados ou hemolisados pelo soro ou colostro da égua, e cujo soro não contenha isoaglutininas ou iso-hemolisinas de células do potro demonstráveis.
Colaboração: Thiago Nogueira Negrão D’Angieri, médico veterinário. Fontes:
PORTAL EDUCAÇÃO –http://www.portaleducacao.com.br/educacao/artigos/29806/as-frequentes-doencas-que-acometem-os-potros#ixzz3JLRszT6U
Manual Merk de Veterinária – http://www.ebah.com.br/content/ABAAABpx4AD/manual-merk?part=5
THOMASSIAN, A. Enfermidades dos Cavalos. 4ª ed. São Paulo. Livraria Varela – 2005. 573p.
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