Debatendo sobre a Laminite em Equinos

Trago nesta matéria um assunto abordado por dois grandes amigos, e médicos veterinários atuantes, resumindo uma enfermidade de importância para os equídeos que pode trazer graves consequências e altos gastos financeiros.

Laminite é uma enfermidade reconhecida há séculos, mas que até hoje sua etiologia, tratamento e prevenção são pouco conhecidos.

O que é Laminite?

Laminite é uma enfermidade causadora de dor no casco, principalmente devido à inflamação das lâminas dérmicas e epidérmicas, que unem a falange distal e a parede do casco. Isto resulta em perda da ligação anatômica entre estas estruturas. Somando esta perda de adesão entre essas estruturas e a ação do tendão flexor digital profundo, teremos uma rotação da terceira falange dentro do casco, que pode ser detectada radiograficamente. Dependendo da severidade, a Terceira falange pode até perfurar a sola do casco ou então haver um afundamento deste osso.

Quais são os sintomas?

A laminite pode ocorrer de duas formas diferentes: aguda ou crônica. Nos casos agudos o início dos sinais clínicos é súbito e estes podem ser severos. Nos casos crônicos, os sintomas podem se desenvolver ao longo do tempo ou podem se originar da condição aguda.

Laminite aguda:

O cavalo apresentará claudicação e até dificuldade de movimentação devido à intensa sensibilidade que geralmente está presente nos membros anteriores, mas que pode atingir os quarto membros. Um sinal característico é que o cavalo fica apoiado nos talões e com os membros inclinados para aliviar a pressão exercida sobre a pinça dos cascos (principalmente dos anteriores). Ao passo ou trote notamos também encurtamento da fase de apoio. Na maioria das vezes podemos notar também aumento da temperatura da parede do casco e o pulso da artéria digital aumentado. O cavalo apresenta resposta positiva ao pinçamento de casco, principalmente na região da pinça.

Laminite crônica:

Nestes casos podemos notar a maioria dos sinais da laminite aguda, porém menos pronunciados. O cavalo pode apresentar um andar rígido. Anéis na parede do casco (linhas de estresse) podem indicar que o cavalo apresentou a fase aguda da laminite a algum tempo. Pode haver afundamento ou rotação da terceira falange, que pode ser facilmente visualizado radiograficamente.

Quais são as causa da laminite?

Muitas causas diferentes podem ser identificadas como desencadeadoras deste processo. A causa mais comum é a ingestão rápida de uma grande quantidade de carboidratos solúveis. Isto pode ocorrer quando o cavalo está em um pasto com acesso a volumosos ricos em carboidratos ou quando acidentalmente tem acesso livre à ração. Cavalos obesos ou acima do peso e com pouca atividade física são altamente vulneráveis. Exercícios intensos em superfície dura também têm sido implicados como causa de laminite. Também pode ocorrer como sequela de intoxicações, retenção de placenta, enterites, síndrome de Cushing, hipotireoidismo, terapias prolongadas com corticóides, entre outros. O apoio excessivo do peso em um membro devido à outra condição que afete o membro contralateral pode resultar em laminite por apoio.

Tratamento de Laminite

O tratamento da laminite exige esforço de todos os envolvidos – médico veterinário, tratador, enfermeiro, proprietário – por ser uma enfermidade de difícil tratamento e bastante dispendiosa. Quanto antes o tratamento for iniciado, maiores as chances de o cavalo retornar à atividade atlética, sendo que os melhores resultados são obtidos quando o tratamento é instituído nas primeiras 12 horas.

Independentemente da laminite se apresentar na fase aguda ou crônica, o tratamento deverá envolver procedimentos médicos, dietéticos, físicos e até cirúrgicos, tendo como objetivo a estabilização e reversão do quadro clínico.

Na fase aguda, a terapia deve ter como principais objetivos eliminar a causa (antibióticos, óleo mineral, hidratação, correção da acidose) e melhorar a microcirculação na região do casco (heparina, acepromazina, flunixin meglumine, ácido acetilsalicílico etc.). A utilização de duchas frias e gelo é parte indispensável da terapia da laminite na fase aguda.

Na fase crônica, além dos procedimentos indicados para a fase aguda, devemos também nos preocupar com a correção da deformidade do casco e da rotação da falange distal. Isso é feito principalmente com o casqueamento e ferrageamento corretivos (ferraduras em forma de coração, ferraduras com palmilhas, etc.). Nesta fase, o controle radiográfico é muito importante para a avaliação da evolução do caso.

Outros procedimentos podem ser necessários, como ressecção da parede do casco ou tenotomia do tendão flexor digital profundo (cirurgia para aliviar a tensão provocada por este tendão na falange distal).

Em qualquer fase da laminite, o cavalo deve ser deixado em uma baia confortável, com boa quantidade de serragem ou areia, assim como ter a ingestão de ração controlada.

Algumas variações no tratamento poderão ser instituídas pelo médico veterinário de acordo com o quadro clínico apresentado pelo animal.

Como prevenir?

Controle de peso para evitar animais obesos é uma medida muito importante no controle desta enfermidade. Evite que o animal tenha acesso livre a volumosos ricos em carboidratos e a concentrados (rações) – tenha certeza de manter a sala de rações seguramente fechada. O animal deve ter o acompanhamento de um ferrageador para manter o balanceamento dos cascos. Suplementos para o casco podem ser administrados se a qualidade do casco do cavalo for pobre. É importante que todos que lidem com o cavalo conheçam as causas da laminite para poder evitar ao máximo que esta doença venha a ocorrer.

Colaboração: André Hernandez, médico veterinário (com HELIO ITAPEMA, M.V. 11 995281710 e RACHEL WORTIHNGTON, M.V. 11 98012 0445)