Suplementos nutricionais são alimentos adicionados à alimentação diária do cavalo que o auxiliam no desempenho, que devem ser utilizados com muito critério preferencialmente recomendados por um técnico especializado.
É importante ressaltar que a utilização adequada dos suplementos nutricionais pode melhorar o desempenho de um animal sem causar doping, pois são substâncias naturais, que aliadas a um treinamento e manejo corretos, estimulam o organismo do animal até o limite máximo de seu potencial genético.
Entre os muitos tipos de suplementos, temos a categoria dos energéticos, isto é, complementos nutricionais adicionados à alimentação cuja função seja de melhorar a disponibilidade de energia para os animais.
Cabe aqui ressaltar que a adição de quaisquer suplementos à dieta de um animal somente deverá ser feita após o correto balanceamento das necessidades básicas da categoria a que ele se destina, pois tão ruim quanto oferecer ao animal menos do que ele necessita, é oferecer a ele mais do ele precisa. Isto é, os excessos são tão ou mais prejudiciais que as deficiências.
Desta forma, antes de se pensar em qualquer tipo de oferta extra de qualquer nutriente, é necessário equilibrar a dieta básica, buscando atender às necessidades mínimas do animal em termos de energia, proteína, vitaminas, minerais e água.
Se após atender essas necessidades matematicamente, tendo o animal potencial genético para melhor desempenho, aí sim é possível buscar nos suplementos uma dose extra de algum nutriente realmente necessário para atender às suas necessidades. Atente apenas para o fato de que, muito do que se tem disponível no mercado, não tem qualidade ou ainda não atende nenhuma necessidade real do cavalo, apenas do proprietário.
Existem duas formas de se aumentar a oferta de energia para o animal:
- Através do aumento do fornecimento de carboidratos, especificamente de amido, sob a forma de grãos, isto é, aumentando-se a ração.
- Elevando-se o teor de gordura da dieta, através do fornecimento de óleos.
O aumento da energia através do aumento da ração pode ser feito, sem risco, até o limite de 1 kg de ração para cada 100 kg de peso vivo do animal (1% do peso vivo), dividido em diversas refeições ao dia, sem que se ultrapasse 0,5 kg de ração para cada 100 kg de peso do animal por refeição. Isto é, para um animal de 400 kg de peso, o máximo a ser administrado é 4 kg de ração, sendo no máximo 2,0 kg por refeição. Pessoalmente, acredito que um máximo de 0,4 kg de ração por refeição gere um aproveitamento melhor para os animais.
Administrar mais concentrado que isso por dia gera dois problemas sérios: (i) sobrecarga intestinal levando a quadros de cólicas; (ii) excesso de amido não digerido no ceco, o que leva a um dismicrobismo (morte da microflora digestiva) com consequências desastrosas para o animal, que vão desde cólicas, laminites, produção excessiva de gases, perda de desempenho, suor excessivo, má recuperação após esforço, etc.
Desta forma, o limite de oferta de grãos acaba sendo baixo para, muitas vezes, atender às necessidades de desempenho do animal, desejada pelo homem sem que isso comprometa a vida e saúde do equino.
Então, podemos e devemos utilizar as gorduras como fonte energética.
Diversos trabalhos comprovam que a adição de 10 a 20% da dieta de grãos em óleo elevam o glicogênio muscular, que é a principal fonte de energia de disponibilidade imediata na célula muscular.
Além disso, o óleo que não será utilizado será armazenado sob a forma de gordura, para posterior utilização (não confundir esse armazenamento com acúmulo de gordura que leva à obesidade – se ofertar muito além do necessário isso poderá ocorrer).
E aqui citamos mais uma vantagem dos óleos como fonte energética sobre o amido, oriundo dos grãos. Como o amido é rapidamente transformado em glicose, energia de pronta disponibilidade, o animal fica mais agitado, com mais energia para gastar, muitas vezes ficando mais irritado se for mantido em confinamento. Como o óleo é disponibilizado como glicogênio muscular ou armazenado como gordura, esse excesso de energia que deixa o cavalo agitado, ocorre com menor intensidade, daí alguns autores, inadvertidamente, classificarem o óleo como calmante. O óleo não acalma o cavalo, mas deixa-o menos inquieto do que quando se utiliza o amido como fonte energética.
Diversos tipos de óleos estão disponíveis no mercado.
Entre todos os tipos de óleos, como óleo de milho, óleo de soja, óleo de canola, óleo de algodão, óleo de arroz, óleo de linhaça e mesmo o óleo de oliva (azeite) a quantidade de energia disponível é exatamente a mesma, ao redor de 8,9 mcal de energia digestível por kg de produto. Desta forma, se o que se deseja é apenas elevar a quantidade energética da dieta diária, não importa o tipo de óleo utilizado, podendo aqui se basear no preço do produto. Em geral o óleo de soja é o mais barato.
A quantidade de óleo a ser administrada varia de 50 ml a 500 ml diários, dependendo de uma série de fatores, como: (i) qualidade e disponibilidade do volumoso; (ii) qualidade e disponibilidade da ração; (iii) tipo de exercício a que o animal se submete; (iv) qualidade genética do animal, isto é, se o animal tem potencial para desempenhar aquela função a que o submetemos; (v) peso do animal; entre outros.
Todos esses fatores devem ser avaliados por um técnico competente.
Deve-se tomar muito cuidado na adição indiscriminada de óleo à alimentação do equino, pois o excesso de óleo também traz prejuízos à saúde do animal, com os mesmos problemas descritos acima para excesso de amido, somando-se emagrecimento e perda de desempenho. Isto é, o aumento indiscriminado de gordura leva à perda de peso e não exatamente ao ganho de peso. Já tive clientes onde consegui fazer com que o cavalo ganhasse peso, cortando 40% da ração. O cliente em questão utilizava uma ração muito rica em óleo e foi, pela moda de terceiros sem conhecimento técnico, incitado a adicionar mais óleo à dieta para ‘melhorar o pelo’. Ocorre que a ração já era enriquecida de fábrica com 40 ml de óleo por kg. Como o cliente administrava 6 kg de ração (além da necessidade do animal, inclusive), ele já estava administrando 240 ml de óleo, muito além da necessidade do animal. Nesse caso, costumo dizer que, em nutrição, mais com mais é igual a menos (contrário à matemática), pois se der muito além das necessidades do animal, o resultado é perda de peso, e não ganho. A solução, já citada, foi simples, cortando a ração para 3,5 kg e diminuindo-se o óleo extra, o animal chegou ao seu estado ótimo para o grande evento da raça, sagrando-se reservado Campeão Nacional.
Segue uma dica para se observar se a ração já vem com óleo de fábrica: observe o valor de extrato etéreo constante do rótulo. Se for acima de 5%, em geral, esses valores somente são conseguidos com adição de óleo na fórmula. A quantidade é impossível de se saber apenas por esse índice, mas nos indica o enriquecimento, o que torna a adição extra de óleo temerosa se feita sem critério.
Entretanto, há uma grande diferença entre a qualidade dos óleos citados.
Quando falamos de óleos refinados, soja, milho, canola, algodão, etc. a qualidade de todos é a mesma, pois o processo de refino volatiliza praticamente todos os compostos nutricionais que trariam algum beneficio ao animal se presentes. Desta forma, o uso desses óleos é apenas como fonte energética quantitativa.
Porém, se desejar algo mais além da quantidade de energia na alimentação, buscando valores qualitativos, que podem fazer a diferença no desempenho e qualidade de vida do animal, pode-se utilizar óleos prensados a frio ou extraídos fisicamente, como o óleo de arroz ou óleo de linhaça. Certamente o azeite de oliva estaria incluído neste rol se não fosse seu custo, o que torna impeditiva sua utilização.
Os óleos de linhaça e arroz prensado a frio ou extraídos fisicamente são riquíssimos em ácidos graxos ômega 3, 6 e 9 e em vitamina E.
As vantagens do equilíbrio entre os ácidos graxos podem ser descritas como abrandamento de reações inflamatórias e alérgicas indesejáveis, melhorando a resposta imunológica.
Para potros em crescimento funciona como auxiliar no desenvolvimento neurológico.
Para éguas em gestação auxilia no desenvolvimento fetal e na lactação, aumentando a quantidade do leite.
Observamos ainda restabelecimento do brilho e da cor da pelagem, bem como a saúde da pele.
Em cavalos de esporte e trabalho aumenta a energia disponível, levando a uma recuperação muscular mais rápida após exercícios.
Promove ainda prevenção de distúrbios circulatórios e cardiovasculares além de ser excelente auxiliar no tratamento de laminites, artrites e artroses e miopatias.
Além disso, o óleo de arroz possui um composto denominado Gama-oryzanol.
O gama-oryzanol é um antioxidante natural que previne o risco de desenvolvimento de doenças coronarianas.
Em muitos trabalhos científicos foram observados diversos efeitos deste composto presente no arroz e no óleo de arroz extraído fisicamente.
Dentre os benefícios observados em seres humanos, mas que podem aparentemente, ser extrapolados para os equinos, temos: (i) função anabolizante com aumento de massa corpórea; (ii) melhora no crescimento com aumento da massa muscular magra; (iii) aumento da resistência física, melhora da recuperação após exercício e redução na gordura corporal; (iv) atividade antioxidante por neutralizar a ação dos radicais livres tóxicos ao organismo; (v) aumento da produção de insulina, proporcionando melhor aproveitamento dos carboidratos pelo organismo; (vi) efeito anti-inflamatório e imuno-estimulante com melhora do estado físico; (vii) e melhoria da circulação capilar com melhoria nos aspecto de pelo e pelagem.
Pessoalmente, entre meus animais e os de clientes das mais diversas raças, pude comprovar os reais benefícios destes óleos, tanto o de arroz como o de linhaça a curto, médio e longo prazo.
Cabe ainda ressaltar, que muitas pessoas fazem um uso errôneo adicional dos óleos: como preventivo de cólicas, administrando 20 a 30 ml duas vezes por semana.
Os óleos, como lubrificam o aparelho digestivo, podem efetivamente auxiliar para que o alimento passe mais facilmente pelo aparelho digestivo. Entretanto, utilizá-lo duas vezes por semana, significa prevenir cólicas duas vezes por semana. Além disso, o uso de óleos (ou mesmo de semente de linhaça com o mesmo propósito) como preventivo de cólicas não se justifica, pois se 95% das cólicas são causadas por erros de manejo, somente se justificaria seu uso se houver erros no manejo, e erros de manejo não se justificam.
Para se prevenir cólicas basta um manejo correto, respeitar um mínimo de 50% da dieta de volumoso (forrageira) de boa qualidade e um máximo de 1% do peso do animal de ração concentrada, além de permitir liberdade mínima de 2 horas por dia aos animais embaiados e convivência, ao menos visual, com outros equinos (redução do estresse).
Exceção feita, por exemplo, na seca que passamos nos últimos meses, onde não havia, na maioria das regiões do país, volumoso de qualidade. Nesse caso, o uso diário de óleo pode ser interessante.
Desta forma, ao se escolher os óleos como suplemento energético, deve-se primeiramente definir o que buscar: apenas quantidade energética ou preciso de mais alguma coisa para meu animal.
O preço certamente é um fator a ser levado em consideração, pois enquanto o óleo de soja sai por volta de R$ 2,00 o litro, o óleo de arroz e linhaça saem por volta de R$ 13,00 o litro, ou mais.
Então a escolha do tipo de óleo depende do que espero e desejo para meu animal.
André Galvão Cintra
Médico Veterinário (CRMV-SP 6765), Professor de Produção de Equinos, Etologia & Bem-estar Animal, Nutrição Animal e Nutrição Equina na graduação e pós-graduação. Especialista em Docência no Ensino Superior e em Gestão de Negócios e Marketing e MBA em Gestão de Empresas e Negócios. Trabalha com cavalos de todas as modalidades equestres e raças do Brasil. Autor Técnico do Software CracHorse, para Cálculo de Dieta em Equinos. Autor do livro “O Cavalo: Características, Manejo e Nutrição” – Editora Roca, 2010, do livro “Alimentação Equina: nutrição, saúde e bem-estar”, – Editora Roca, 2017, Coautor do livro “Manual de Gerenciamento Equestre”, com Sérgio Lima Beck, 2012; Autor do Dvd “Pelagem, Exterior e Resenha dos Equinos”, VideoPar, 2014.
Contato: agcintra@gmail.com – www.andrecintra.vet.br
Em parceria com Rodrigo Perbone, médico veterinário, Clínica e Odontologia Equina.