Em artigo escrito pelo médico veterinário, Tecnólogo em Agronegócio e Gestor de Equinocultura Orlando C Silva Filho, vocês podem conferir uma análise deste ano e suas perspectivas para 2021 que está chegando.
O ano de 2020 foi marcado pela crise instaurada pelo novo corona vírus (Covid19), a qual não deixou de afetar o mercado da equideocultura. Competições equestres, exposições de raças e leilões presenciais tiveram que ser suspensos ao até mesmo cancelados. Entretanto, apesar dos problemas, o segmento pode se reinventar e fortalecer. Prova disso foram três principais ações de grande relevância e de fundamental importância para driblar a crise. A primeira delas foi deixar de lado a realização de grandes eventos com presença de público e diversos expositores, para focar somente na realização das provas equestres. A segunda ação foi a viabilização da união das raças, modalidades e entidades correlatas do setor para a criação do Instituto Brasileiro de Equideocultura (IBEqui), algo que já era pretendido e cogitado há anos, porém, somente durante a pandemia se concretizou. E a terceira, diz respeito à intensificação e o crescimento sólido dos leilões virtuais, com destaque para alguns acontecimentos comerciais marcantes.
O mercado na pandemia
No período do mês de maio, os remates transmitidos de forma virtual da raça Crioula apresentaram liquidez nas vendas, inclusive internacionais. Juntas, as batidas dos martelos acompanhadas de casa somaram um faturamento superior a R$ 4,8 milhões, mostrando que não houve queda na movimentação do mercado. Ainda foi possível gerar um avanço para o desenvolvimento futuro da raça no exterior, com a comercialização dos potros Um Guerreiro Mapocho e Vale Quatro Mapocho para a Itália e que entram nos planos de procriação na Europa em 2021. O outro exemplo de relevância foi na raça Quarto de Milha quando em outubro, durante um leilão também virtual realizado no formato de Live, ocorreu a maior comercialização nacional de um animal da raça. A égua Electric Bueno Spark foi vendida pelo valor de R$ 2.400.000,00, sendo considerado um recorde para o mercado da raça.
Cenário econômico
Mesmo em meio a um cenário de incertezas e novas descobertas de negócios, o ano que vem tende a ser favorável ao mercado brasileiro da equideocultura. No âmbito dos animais utilizados para lida, a alta nas exportações brasileiras de carne bovina, especialmente pelo aumento da demanda dos países asiáticos, favorecerá a necessidade da ocupação e, consequentemente, manutenção da tropa de equídeos. As práticas esportivas equestres, certamente seguirão evoluindo no processo de adaptação frente à realização das atividades afinal, já possuem e utilizam protocolos sanitários validados para a realização de provas equestres e exposições seguras durante a pandemia. Todavia, a possibilidade de retomar a realização das atividades com a presença de público é bastante baixa. Fator que de certa forma interfere negativamente no chamado turismo do cavalo, atividade centrada na exibição do cavalo e ligada diretamente a toda comercialização durante os eventos do seguimento. Em contra partida, a criação e o treinamento para as práticas esportivas equestres, devem se manter estáveis e com demanda ativa, ao menos neste primeiro semestre de 2021, devido à programação e ao planejamento de diversas provas para o início do ano.
Oportunidades
Atualmente estamos vivenciando um período em que a humanidade se sentiu obrigada a parar, repensar e mudar vários aspectos. Um deles é o de dar mais atenção à qualidade de vida. Fato que vem fazendo com que um número considerável de pessoas interessadas em uma atividade mais saudável ou em contato com a natureza, busque por iniciar uma atividade esportiva equestre, ou até mesmo voltar a praticar. No mesmo sentido, pode-se ressaltar o desenvolvimento e o protagonismo do turismo a cavalo, promovendo atividades de lazer e entretenimento cada vez mais procuradas pela sociedade. Este fenômeno, consequentemente, acarretará no surgimento de uma demanda a qual favorecerá mais especificamente a área de insumos e serviços do seguimento em curto e médio prazo, o que pode gerar mais oportunidades e contribuir para aliviar os impactos provocados pela crise.
Custos
Tendo em vista que o preço do milho, parte integrante da composição das rações comerciais, deve permanecer em nível elevado e que na criação de equídeos a alimentação representa um fator econômico significativo, cerca de 60% dos custos de manutenção, não seria incorreto afirmar que as despesas com esse item imprescindível irá encarecer a criação em 2021. Alguns medicamentos e demais insumos veterinários específicos, e comumente utilizados em equídeos de alta performance, para a atividade esportiva ou programas reprodutivos, possivelmente continuarão refletindo o impacto do preço do dólar comercial, que já acumula alta de 38% em relação ao real no ano de 2020.
Considerações de gestão para o equideocultor
Procure compreender melhor os anseios de oferta e demanda não somente da raça e modalidade que está envolvido, mas principalmente da sua região de atuação. Observe o comportamento do mercado e estabeleça estratégias de curto, médio e longo prazo. Implemente ferramentas de gestão no seu haras, fazenda ou centro de treinamento para minimizar seus riscos. Se planeje de forma gradativa para se tornar o mais autossustentável possível e reduzir necessidades e custos externos. Esteja disposto a enfrentar mudanças e evoluir em meio ao novo normal do mercado.
Um feliz e promissor 2021 para o setor da equideocultura!
foto: Image by Miguel Muñoz Hierro from Pixabay
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