A Laminite é uma patologia que atinge o sistema locomotor (casco) dos equinos, conhecida também como pododermatite asséptica ou aguamento, a qual geralmente ocorre nos membros anteriores, porém pode acometer todos os quatro membros.
É descrita como uma doença vascular (congestão) seguida de exudação (necrose das lâminas), gerando inflamação e muita dor. O animal adota uma postura de se apoiar nos membros posteriores projetando os membros anteriores para frente (deslocamento do centro de sustentação).
Esta doença é uma manifestação local (dentro do casco) em decorrência de um distúrbio metabólico mais sistêmico, que afeta o sistema cardiovascular, renal, endócrino, coagulação sanguínea e do equilíbrio ácido básico. Em nossa região é comum encontrarmos equinos com laminite aguda pós excesso de exercício, pós cólicas, excesso de ingestão de grãos, éguas pós partos distócicos ou com metrites, intoxicações alimentares, etc.
No caso da laminite aguda ou crônica, a radiologia tem como objetivo detectar alterações indicativas de deficiência mecânica além de observar as mudanças que contribuem para o diagnóstico, prognóstico e tratamento.
Para um bom estudo radiográfico alguns “marcadores radiopacos” devem ser usados como pontos de referência. Um marcador linear é colocado no plano sagital da muralha dorsal do casco, um segundo marcador é colocado na junção entre a muralha e a coroa do casco. O terceiro e o quarto são colocados no ápice da ranilha e na junção da linha branca da muralha do casco com o bulbo do talão, respectivamente.
O paralelismo da falange distal (osso que fica dentro do casco) com relação ao casco é mantido pelas lâminas interdigitais do cório laminar e da lamela córnea da muralha do casco, porém na laminite aguda pode-se observar um aumento milimétrico da distância entre a parede do casco e a falange distal. Esse processo de rotação da falange (osso) conhecido popularmente como “o osso rodou para baixo” é muito doloroso e normalmente o cavalo tem muita dificuldade de locomoção e adota a postura de se apoiar nos membros posteriores (vide figura 01).
A laminite é considerada uma doença progressiva e rapidamente evolui para um descolamento do casco. Na radiologia isto se traduz num aumento da distância entre a parede exterior do casco e a superfície dorsal da falange distal (HDPD).
Alguns autores defendem que, normalmente em cavalos pesados (400 a 450 kg) a distância entre a parede exterior do casco e a superfície dorsal da falange distal é de 16 a 18mm. A medição se faz importante para diagnosticar casos de laminite aguda, pois um discreto aumento de 2 a 3 mm é compatível com laminite aguda. Sendo importante relatar que o grau de deslocamento está diretamente relacionado com a gravidade da laminite. Alguns autores defendem que a rotação palmar inferior a 5° (graus) o prognóstico é favorável ao retorno à vida atlética, de 5° a 10 °(graus) o prognóstico é de reservado e acima de 10 ° (graus) o prognostico é desfavorável ao retorno atlético.
As radiografias das Figuras 02 e 03 mostram a evolução negativa da laminite no mesmo animal. A Figura 02 foi radiografada no dia 28 de Janeiro com rotação palmar de 05° graus e a Figura 03 no dia 18 de fevereiro com rotação palmar de 16° graus com imagens de gás (descolamento das laminas) dentro do casco (21 dias após).
Outra mensuração importante a ser analisada e acompanhada é a distância a partir da extremidade proximal da parede do casco até o processo de extensor (vide figura 04). Há casos onde a Falange distal afunda verticalmente para dentro do casco sem demonstrar rotação palmar. Esta patologia decorre da separação total do casco com a falange distal, há casos onde o casco se descola totalmente (perda do casco), restando apenas o osso exposto, sendo esta uma patologia de prognostico desfavorável.
Algumas alterações radiográficas são evidências de complicações da laminite. Imagens radioluscentes (escuras) no interior do casco são indicadores de separação das lâminas, onde o ar ou gás está presente. Dilatação de canais vasculares, presença de desmineralização óssea, osteomielites, fraturas e remodelamentos da Falange distal também são indicadores de agravamento da doença.
A venografia é uma técnica de imagem radiográfica onde se injeta um contraste positivo endovenoso, permitindo uma avaliação vascular nas fases aguda ou crônica da laminite. Os venogramas podem diagnosticar problemas de enchimento venoso sugerindo agravamento da patologia.
De modo geral, a avaliação radiográfica (radiologia) é justificada nas suspeitas de laminites como também em qualquer cavalo com impressão clínica de dor ou claudicação. As imagens radiográficas são ferramentas importantes não somente pelo seu valor diagnóstico, mas também pelo seu valor terapêutico e prognóstico.
Colaboração: Roberto Delort, medico veterinário. Tel: (11) 4586-8400 / www.delort.com.br