A seção #tbt de hoje traz matéria publicada na Revista O Trotador edição 03 – em novembro 2014, contando a história de um personagem do meio do cavalo trotador. Confira!
“Veterinário, treinador, jóquei, presidente da Comissão de Corridas e um apaixonado pelo trote. Este é Rami Nasser, profissional que chegou à Sociedade Paulista de Trote em 64, quando tinha apenas 13 anos, e a partir de então, desenvolveu toda sua vida no mundo do cavalo trotador.
Figura presente há 50 anos na Trote, o egípcio Rami Nasser conheceu a raça meio que sem querer, e logo se envolveu com o meio que virou a sua casa, se tornando veterinário para estar mais próximo dos animais, treinador e jóquei pelo jeito que sempre lidou com os cavalos e presidente da Comissão de Corrida, para resolver possíveis problemas nos páreos realizados no Hipódromo de Piracaia. Mesmo não tendo objetivado vivenciar este mundo, as situações fluíram naturalmente e hoje é uma paixão.
“Estava com meu pai, Attia Tag El Hassan Nasser, e vimos um cavalo trotador passando na rua que logo nos chamou atenção. Não sabíamos nada sobre a raça, só pegamos o carro e fomos atrás, pois ele passou voando e quase não o alcançávamos. Ficamos então sabendo que era animal que havia corrido na Sociedade Paulista de Trote. Meu pai o adquiriu e ele foi o nosso primeiro trotador. Procurando conhecer mais sobre a sua raça, nos falaram da SPT e resolvemos conhecer o espaço, na época, na Vila Guilherme, e, a partir daí, não me desliguei mais, pelo contrário, o envolvimento aumentou muito e nunca mais sai do Trote”, conta Rami Nasser.
Este primeiro animal foi o começo de toda vida voltada para o cavalo trotador. Rami acabou ingressando na Universidade Federal do Rio de Janeiro para cursar Veterinária em 72, se formou em 76, e afirma que decidiu pela profissão para ficar mais perto dos cavalos. Assim que se formou a diretoria da SPT o convidou para ser o veterinário responsável pelo hipódromo, seu primeiro e único emprego, no qual está se aposentando agora.
“Acabamos conhecendo todo mundo lá no Trote. O sr. Franco nos apresentou o Basilio e ai, ficamos uns 20 anos trabalhando juntos por lá. Adquirimos mais animais e passado um tempo, comecei a treiná-los. Não imaginava que poderia um dia ser jóquei, me contentava em treinar. Foi através de um dos presidentes da SPT que o convite surgiu, pois ele me falou que os cavalos na minha mão iam melhor, aproveitando para me questionar o por que de não ser um jóquei. Na hora perguntei se podia e iniciei todos os tramites para tirar a minha carteira”, continuou.
Hoje, aos 64 anos de idade, Rami conta que treina animais e é presidente da Comissão de Corridas. As corridas também continuam presentes, mas um pouco menos. Ele gosta de definir que hoje faz clínica esportiva, pois recebe o animal domado, para poder trabalha-lo ou melhorá-lo, corrigindo possíveis erros.
Segundo ele, o trotador é a única raça que o atrai. “Gosto de ver o cavalo com o andar artificial, no caso dos marchadores, e o trabalho que é feito para se chegar às vitórias, indo desde as embocaduras até as ferraduras e alimentação. Se fosse fácil não teria graça, o gostoso é ver o resultado final nas pistas”.
Procurando fazer um trabalho diferenciado, Rami conta que é totalmente contra o que ele chama de ‘modernismo químico’, ou simplesmente o doping. Em sua opinião seria importantíssimo os exames de antidoping nas corridas, pois, para ele, os cavalos são muitos bons e se não usassem este tipo de medicamento, ficariam ainda melhores, além da sua expectativa de vida ser bem maior.
“Eu já ganhei Grande Prêmio Brasil com animal de 12 anos, que estava comigo há 8 na cocheira lá da Vila Guilherme. Então este é o meu prazer. Outro detalhe é que não uso o chicote, sempre corro sem ele, pois acho que não funciona bater. Só estou com um na mão, quando é um potro ou animal que tenha medo da caminhonete de partida, então uso para incentivá-lo na carreira. Há cerca de 3 meses, eu corri um mano a mano, sem o uso do chicote e venci. Sempre procuro ver o que o cavalo quer e trabalhar em cima disto, não adianta eu impor a minha vontade a ele, que não vai funcionar, por isto, adoro fazer isto”, continuou.
Dentre os animais que marcaram sua trajetória, Rami lembra do Nordico, da égua Ciceli e do Rebenque, animal que vendeu numa grande negociação e que hoje está como reprodutor no Stud Macal, dentre outros.
Com 11 boxes no hipódromo de Piracaia, onde também fica alojado de terça a sexta-feira, quando não tem corridas, Rami afirma que gosta de estar perto dos animais que treina, principalmente para poder conferir a alimentação, que é um grande segredo, segundo ele. Além disto, outra função que afirma acumular com as cocheiras, é a de ‘psicólogo’ dos proprietários, brinca.
A idade nada influencia na sua disposição, ao contrário, afirma que hoje nas corridas ele é bem melhor do que era, pela capacidade de raciocinar todo o percurso. “Corro consciente e sempre procuro olhar para o jóquei que está a minha frente. Tenho a certeza de que jóquei nenhum dá perna ao cavalo, ao contrário, só pode atrapalhá-lo”.
Seus filhos também herdaram o gosto pelos cavalos e o acompanhavam no trote. Hoje, continuam envolvidos no meio equestre, só que na raça Quarto de Milha, mas, quando podem, eles aparecem para correr. “Eles gostam e tem habilidade”.
A expectativa de Rami para o futuro da raça é que o Trote se espelhe em todos os hipódromos internacionais que estão no auge, fazendo disto sua meta. “Temos o local que é o melhor da América Latina. Piracaia e suas instalações tem tudo para ser o grande centro da nossa raça!”