Nosso #tbt de hoje traz matéria publicada na edição 02 da Revista da Marcha, em abril de 2015, mostrando a paixão do campeão mundial de montaria em touros Guilherme Marchi pelos muares. Confira!
“Campeão mundial de montaria em touros 2008, Guilherme Marchi vive nos Estados Unidos há 11 anos, onde possui um rancho no Texas e mantém a paixão que desde criança nutre pelos muares. Apesar das diferenças culturais, ele conta que conseguiu adquirir um burro na América, e hoje, o Capitão – nome que deu – é o animal com que prefere praticar a modalidade Laço em Dupla, chamando a atenção de todos por sua habilidade.
Quem gosta de muares não consegue ficar muito tempo longe de um bom exemplar, seja para um passeio ou apenas para a lida no dia a dia do campo. De família tradicional no meio, Guilherme conta que sua história com os muares começou com o avô Luiz Marchi e o tio Turcão (Antônio Marchi), de Itupeva/SP, nas Romarias e passeios que participava.
“Quando eu tinha uns três anos de idade, eu e meu irmão Juliano os acompanhava nas Romarias de Itupeva e enquanto nós estávamos com nossos cavalos, eles sempre iam montados em burros ou mulas, fato que me chamava a atenção e começou a despertar minha paixão pelos muares. O prazer de andar num burro ou numa mula é sem igual”, relembra.
Aos seis anos de idade, Guilherme ganhou do pai sua primeira mula e a partir daí, só queria andar nela. “Ela era pampa, tinha um coração na traseira, não me lembro muito bem, mas acho que o nome dela era Colina. Muito mansa e bonita, meu pai comprou-a do Bastiãozinho de Cajamar, e como era boa de charrete também, fazíamos uma bagunça com esta mula, andava na sela, na charrete, passava por debaixo dela, ninguém me segurava”.
A preferência pelos muares, segundo o campeão mundial, se dá pela maior resistência, a beleza, além do conforto que eles proporcionam. Fortes e briosos, são animais que não dão muita confiança, o que acaba sendo um desafio.
A partir do presente do pai, Guilherme nunca mais deixou de ter contato com os muares. “Quando mudei de Itupeva para o litoral, cheguei a ter alguns cavalos, mas quando possível voltava para a casa do meu avô, que sempre teve burros, para poder ter contato com esta paixão, onde também tínhamos nossas mulas. Então era algo muito rotineiro e prazeroso poder andar nelas. Quando montamos num animal bom, não queremos mais descer. Dá gosto sentir a boa marcha deles”.
Na América
Morando nos Estados Unidos desde 2004, onde compete no mundial de montaria em touros da PBR, Guilherme Marchi conta que no ano seguinte à sua chegada, em contato com o amigo Paulo Crimber que já residia lá, ficou sabendo de uma pessoa que tinha um burro e estava querendo vender. No mesmo instante pediu para Crimber ir atrás do cara para poder comprá-lo, pois queria ele próprio amansá-lo.
“É até engraçado, porque quando mudei para cá, eu trouxe as traias de argola, arreio, tudo que sempre usamos no Brasil com os muares, mas aqui eles não têm esta cultura. É tudo muito diferente dos nossos costumes. Então, quando monto no burro trajado e saio para alguns lugares dar umas voltas, o povo pára, pergunta da traia, onde eu compro, onde se consegue, é até engraçado. Eles acabam tendo curiosidade, perguntam do burro, pois eu o domei para o Team Roping e o pessoal fica impressionado com a habilidade e domínio que ele tem no laço. Filho de égua quarto de milha, o Capitão tem velocidade e muita agilidade. Laço cabeça e pé com ele, além de ser bom no andamento também o danado. Então ele é meu prazer por aqui”, continuou Guilherme.
Por não ser tão comum nos Estados Unidos, onde a maioria dos muares é usado para trilhas ou na lida no campo, Guilherme faz questão de levar seu animal onde vai, e ao entrar nas arenas todos ficam pasmos de ver o burro laçar.
Ele conta que existem alguns estados onde a paixão pelos muares é maior nos Estados Unidos, como na Califórnia, Colorado e alguns locais do Texas, mas, mesmo assim, são raros. “Já vi muares aqui em competições de laço, hipismo, tem um pessoal que usa para caçar, outros para fazer trilhas, mas nada focando no andamento, como acontece no Brasil. Pela genética apurada que hoje os muares apresentam no país, com o uso dos cavalos marchadores, a diferença é grande com relação aos animais americanos”.
Com uma tropa de 12 cavalos, uma mini-mula que é do filho JG, e mais o burro Capiutão, seu xodó, Marchi conta que no Brasil seu pai e seu irmão também têm tropa de muares, já que são fãs destes animais. “Sempre que estou no Brasil e tenho chance de ir em alguma Romaria ou Cavalgada, faço questão de montar na minha mula pampa, a Bailarina, que fica ai no Brasil e é muito boa. Meu irmão cuida dela enquanto estou fora, mas quando chegou, vou nos eventos que consigo para matar saudade e reencontrar os amigos”.
Guilherme chegou a promover uma Prova de Marcha no seu Rancho, em LemeSP, junto a um amigo que incentivou a fazer a competição. “Fiz mais meso para reunir a galeria dos muares e foi um evento muito bom, onde realizamos um almoço sertanejo, desfile e as provas de andamento. Deu bastante trabalho, mas consegui reunir todos os amigos e parentes, todos da minha região, itupeva, em dois dias de prova. Mas como minha vida é muito corrida, não consegui dar prosseguimento nos anos seguintes. Assim que tiver oportunidade pretendo repetir a dose para reencontrar os amigos”.
Enquanto isto, o jeito é ir matando a saudade dos muares do Brasil com o burro Capitão, seu grande parceiro nos EUA.”
PS – Hoje Guilherme Marchi se aposentou das arenas e vive no Brasil