Categoria incentivada pela ABCCC tem sido motivadora para pessoas com necessidades especiais que vêem na prova uma oportunidade de superação
Com ciclo iniciado no ano passado, o Inclusão de Ouro, prova do Cavalo Crioulo para pessoas com necessidades especiais, já vem sendo um grande sucesso. E este sucesso não vem só pela participação e repercussão, mas pelo poder transformador que a modalidade, promovida pela Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), tem na vida de seus participantes.
As histórias de superação vão além das pistas. Para muitos, esta integração com o cavalo e com outros ginetes tem sido fundamental para transpor limites. “A prova é muito além dos cinco minutos em pista. Recebemos relatos e vemos na conduta dos participantes que o pós-prova traz para a vida deles mudanças fantásticas”, destaca a idealizadora da prova e coordenadora da Subcomissão do Inclusão de Ouro, Josilene Martins.
Josilene lembra de algumas das histórias dos participantes. Uma delas é de dona Eva, que com 70 anos sempre acompanhou os filhos competindo. Com deficiência visual, soube do Inclusão de Ouro que mudou a sua vida. Também recorda da emoção de um competidor, com Síndrome de Down, que antes não saía de casa e agora vai, inclusive buscar seu cavalo no campo sozinho. “Ele passou a ter outra conduta com a relação familiar e com amigos. A mãe nos passa essa alegria porque ele se sente independente porque participa de provas em Esteio. A família dele é oriunda do laço e o sonho maior dele não era participar de uma prova, mas ter o seu nome chamado na pista como ginete”, conta.
Matheus Barreto, participante do Inclusão de Ouro, fazia estágio em uma clínica de Equoterapia para a conclusão do curso em técnico em Zoootecnia. Foi ali que deu os primeiros passos para participar da prova. Com o fim do estágio, a preocupação era a de não poder competir pois não tinha um cavalo. Em uma ação de uma criadora, Matheus foi presenteado com um animal para que pudesse continuar praticando. “O Inclusão de Ouro me deu uma nova perspectiva de vida, deixei de sobreviver para viver. Com o Inclusão de Ouro tive a oportunidade de realizar meu sonho que era ter meu próprio Cavalo Crioulo. A modalidade me trouxe de volta à vida, fiz grandes amigos e realizei sonhos”, relata.
Já Márcio de Azevedo Velho, de 39 anos, tem Síndrome de Down. Entre 10 e 15 anos de idade ele teve bastante contato com cavalo num sítio da família. Há cerca de 5 anos foi indicada a equoterapia como mais uma tentativa de desenvolvimento. Logo Márcio voltou a se identificar com o animal. Quando posteriormente surgiu a oportunidade das competições, foi o ápice. “Achamos que na equoterapia ele se desenvolveu muito em todos os sentidos tais como equilíbrio, atenção, socialização, autoconfiança e outros mais. Como todo esportista, ele gosta de medalha, vibra muito com os troféus e com as publicações dos eventos”, diz a mãe, Maria Aparecida.
Josilene afirma que não imaginava que o Inclusão de Ouro teria o alcance que atingiu. “Acho incrível as pessoas nos procurarem e dizer que mesmo quem não está competindo fica estimulado em ver os nossos participantes em pista. Eu descobri que as pessoas se sentiam tão felizes, gratificadas e modificadas que acabou tendo um sentido diferente. Formamos um ciclo de amizades, uma grande família, algo muito além, onde o pessoal se mantém informado sobre a vida dos outros participantes. É um estímulo muito grande em não deixar nada cair”, pontua.
A coordenadora da Subcomissão do Inclusão de Ouro revela que os cadeirantes, por exemplo, dizem que o cavalo é a passada que eles não têm e que a independência e autonomia que o Inclusão trouxe acaba sendo mais gratificante que somente o competir. “Eles colocaram várias vezes o quanto é complicado as pessoas julgarem sem dar oportunidade para mostrarem as suas qualidades. Preferem que na mesma prova tenham participantes de diversas patologias. Eles vencem a si próprios a cada superação do seu limite”, conclui.
Fotos: Felipe Ulbrich/Divulgação