#tbt Congresso Standardbred reúne argentino e americanos na SPT

Vamos relembrar hoje um evento que foi um marco para o cavalo trotador no Brasil, o 1o Congresso Internacional da raça Standardbred/American Trotter realizado no final de março de 2014 na Sociedade Paulista de Trote. Segue matéria publicada na edição 02 da Revista O Trotador, em maio de 2014.

“Um sucesso! Assim pode ser definido o 1o Congresso Internacional da raça Standardbred/American Trotter realizado no último final de semana de março na sede da Sociedade Paulista de Trote. Numa iniciativa particular da Vicensio Standardbred Horses em conjunto com American Standardbred Connection, o evento reuniu cerca de 50 participantes para ouvir os profissionais internacionais convidados a ministrar as palestras.

Desde que foi pela primeira vez conhecer o mundo do trote nos Estados Unidos, em 2009, o criador Mário Vicensio tinha em mente a realização de um evento para poder dividir tudo que viu na viagem com os profissionais e apaixonados pela raça Standardbred aqui no Brasil. Em muitas conversas com o amigo James Shanagher, os dois se uniram para trabalhar em cima de um Congresso, efetivado no início deste ano, com a participação de três profissionais americanos, além de James, e de um argentino, cada um mostrando a realidade de suas áreas e tirando muitas dúvidas dos participantes.

Assistindo às palestras

“Fiquei deslumbrado com tudo que vi nos Estados Unidos e assim que víamos a viabilidade de realizarmos um Congresso aqui, estudamos o perfil de cada profissional que pretendíamos convidar a participar, montamos um perfil desejado, conversamos com vários pretendentes e acredito que chegamos a ótimos nomes no final”, explicou Vicensio.

Foi o primeiro evento do gênero no país, com a participação internacional. Co vagas limitadas, assim que foi iniciada a divulgação do Congresso, os muitos interessados, dentre eles, proprietários de animais, jóqueis, criadores e treinadores, reservaram suas vagas e as 50 inscrições foram preenchidas.

Palestrantes e organizadores junto a amigos participantes do Congresso

Representante da Argentina, Leonardo Agusti, presidente da ACCAT – Associação Argentina de Trote – ministrou palestra sobre a criação de cavalos na Argentina e também explanou sobre a Copa dos Criadores, um dos principais eventos realizados atualmente no país. “Ele é um dos principais criadores argentinos e deu sua colaboração ao nosso público”, afirmou Mário.

Completando o time de palestrantes, quatro profissionais americanos vieram ao Brasil, em sua maioria, pela primeira vez. O treinador Mark Ford, titular do Centro de Treinamento que leva seu nome em Nova York, falou sobre prática de corrida, criação e técnicas utilizadas na América. O jóquei Brandon Simpson falou sobre doma, manejo e treinamento de cavalos de corrida. Rob Harmon, ferrageador e jóquei, também levou sua experiência no cavalo trotador ao Congresso: e James Shanagher, um dos organizadores do evento, finalizou as palestras.

“A participação no Congresso superou nossas expectativas e tivemos todos os níveis de pessoas lá, desde os jóqueis e treinadores aos proprietários e criadores. As principais dúvidas que notei foram com relação à treinamento, doma, alimentação e ferrageamento, devido às perguntas feitas a cada palestrante, que tentaram esclarecer da melhor forma possível”, explicou Vicensio.

Segundo Mário, a ideia é dar continuidade ao Congresso para que ele se torne anual. “Estamos focando em trazer algo novo, algum assunto que não abrangemos nesta etapa inicial, talvez algo mais específico, como uma pós-graduação. Assim que fizermos todo trabalho de pesquisa, faremos a divulgação, pois acreditamos que teremos novamente o total preenchimento das vagas. Co esta primeira experiência os brasileiros puderam ver muita coisa nova que os americanos trouxeram, já que os Estados Unidos são os primeiros do mundo na raça, além de possuírem alta tecnologia tanto na criação, quanto nas corridas. Aguardem”.

Os americanos Rob Harmon, Brandon Simpson e James Shanagher

Com a palavra os americanos…

Aproveitamos o contato com dois dos americanos que estiveram no Congresso para uma entrevista sobre o evento e o que acharam do cavalo trotador no Brasil. Confira aqui as respostas dos profissionais James Shanagher e Rob Harmon.

James Shanager

Aos 45 anos e natural de Nova Iorque, James P. Shanagher trabalha com animais desde 1975, quando saia da escola para limpar estábulos no Roosevelt Raceway. Dapi para ser um treinador foi a evolução natural, até desenvolver uma alergia a cavalos, o que o afastou dos animais. “Tive que deixar a lida e atuar somente como proprietário de animais”. Após trabalhar durante três temporadas de corridas para o New York Racing e Wagering Board at Finger Lakes Raceway, mudou para o ramo de vendas e marketing e ainda criou uma empresa de transportes que serve mais de 40 rotas entregando mais de 5000 encomendas por dia para Albany, área de NY.

Ainda proprietário de alguns poucos cavalos de corrida, conheceu Mário Vicensio, quando colocou seus animais à venda na internet, em 2010. “Mário estava interessado na Catereosa, uma fêmea minha, para colocar na reprodução com o Spy Hard. Desde então, fiquei intrigado com os planos deste criador em introduzir os cavalos americanos no Brasil e o ajudei em outras compras. Foi muito recompensador para mim conhecê-lo, pois com minha paixão pelos trotadores e a vocação pelas vendas e marketing foi um processo natural poder co-produzir o recente Congresso no Brasil. E já estou super ansioso para o próximo evento, que, com certeza, estaremos realizando. Mário e eu estamos certos de que é de extrema relevância dar continuidade ao trabalho”, afirmou o americano, que esteve pela segunda vez no Brasil.

James confirma o sucesso do Congresso, ressaltando a variedade do público participante, de todos os níveis de envolvimento com o cavalo trotador. ‘Todos com a intenção de aprender tão mais do que nós poderíamos lhes oferecer. Eles apresentaram níveis altos de profissionalismo, sendo pacientes com os detalhes da linguagem e até mesmo com algumas técnicas incompatíveis. Eles participaram ativamente, com muitas boas perguntas. Eu falei mais sobre o respaldo na evolução das corridas de trote na América, bem como o ensino dos participantes em como usar as informações de performance e raças disponíveis para avaliar animais para criação e corridas”.

Quando planejou jnto ao Mário a realização do evento, a programação inicial foi de um programa de estudos para três dias de evento. A ideia era abordar um grande número de temas que os profissionais convidados pudessem oferecer, com uma grande gama de informações aos participantes. “Com o desenvolvimento do Congresso, fora expressados interesses em condicionamento, treinamento e ferrageamento e nossos palestrantes Brandon Simpson e Rob Harmon fizeram um trabalho fantástico ensinando a todos e respondendo a muitas questões. Quando fomos para a prática, os dois estavam aptos para passar anos de conhecimento e toda sua experiência ao grupo, apresentando técnicas de ferrageamento e cuidados com as patas dos animais, uso de equipamentos e condicionamento. Foi início de um trabalho que precisa de continuidade em eventos futuros, por isto, eles passaram os contatos via email para continuar trocando informações”.

Sobre os animais brasileiros, James fala que ficou impressionado em como eles são treinados, sem qualquer tipo de stress. “Animais assim são feliezes, resultado direto do amor e respeito que o pessoal aqui tem por seus animais e o estilo de vida assim como as acomodações que são oferecidas aqui são evidentes que os mantém felizes e sadios para responder nas pistas”.

O investimento brasileiro em importação também foi ressaltado por James. “Em apenas quatro anos desde que se importou o primeiro animal americano, o Haras Vicensio gerou aproximadamente 200 éguas no Brasil, resultando em uma nova linhagem vinda de fora para a raça. É um rápido e louvável começo, com a introdução de algumas das melhores linhagens de sangue da produção americana agora no Brasil. Acredito que para manter a raça evoluindo, os investimentos em éguas de cria devam aumentar, pois como em toda criação de animais, a linhagem materna é tão importante como a paterna na construção de uma raça melhor. Sei que o custo é alto, principalmente para corridas de trote em nível de hobby, o que torna o custo fora do alcance para muitos. Por isto, sou um grande adepto de parcerias como o melhor caminho para manter a acessibilidade”.

O mercado do cavalo trotador na América é um grande negócio e o americano aproveita muito as vantagens que no Brasil ainda não estão disponíveis, com nível de habilidade resultado direto da criação e tecnologia. “É o que tentamos passar no Congresso para discutirmos informações novas que possam ajudar o crescimento do mercado no Brasil. O trabalho é progressivo”.

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Rob Harmon

Rob Harmon

Ferrageador, jóquei e treinador, o americano Rob Harmon, de 45 anos, também é natural do estado de Nova Iorque, e veio passar um pouco da sua experiência no Congresso. Em sua carreira registra 565 vitórias e ganhos de $1,224,008, com a maior vitória no American National at Balmoral Park, com CC Spice, registrando ao tempo de 1:51.4. Conquistou o título de treinador do ano em Michigan, por dois anos.

Rob concorda com James no sucesso do Congresso. “Foi ótimo. Eu amo a atmosfera do dia de corrida e foi um prazer este clima também no Brasil, já que após o Congresso, participei de alguns páreos na Sociedade Paulista de Trote.

O americano experimentando animais brasileiros

A grande maioria dos participantes, segundo o palestrante, fez questões importantes, tirando suas dúvidas sobre treinamento e ferrageamento, até mesmo citando exemplos práticos do que acontece com eles. “Do que vi, é o mesmo que acontece nos seminários que fazemos nos Estados Unidos”.

A maioria dos animais que Rob teve contato aqui ele ressalta não serem castrados. “Os cavalos castrados são mais fieis e concentrados no que fazem, não se desgastam, e acabam sendo mais maleáveis para se trabalhar. Em alguns animais vejo a necessidade do uso da chamada ‘saqueira’, que protege os testículos para não bater na coxa e ficar dolorido, ajudando para não haver queda no rendimento do animal. Também acho importante os profissionais se preocuparem com o overtrainning (excesso de treinamento)”.

Brandon Simpson também correndo na ocasião

Elogiando a iniciativa do criador Mário Vicensio e também do público brasileiro que participou do Congresso, Rob afirma que com o tempo, seria importante o hipódromo ter uma agenda cronometrada nos dias de corrida, como acontece nos Estados Unidos.

Por ser a primeira vez no Brasil, Harmon afirma que adorou o país. “Eu achava que era como nos filmes, mas não é! Tudo aqui é muito legal, as pessoas, temperatura, enfim, foi uma grande experiência. Com relação ao pessoal do Trote, pude ter contato com grandes pessoas que têm atitudes sobre seus animais e também pessoas que querem aprender sempre”.

Sobre os jóqueis treinadores, Harmon ressaltou a importância deles serem responsabilizados por seus atos em pista. Para ele, o treinamento deve ser feito de forma natural, mudando de animal para animal. “Também acho importante os animais serem trabalhados na pista grande, para eles se adaptarem da forma correta na pista, não pegando vícios, o que pode acontecer caso sejam trabalhados apenas nas pistas menores. Acredito que após este Congresso, continuaremos mantendo contato com os brasileiros, pois trocamos emails e poderemos continuar a conversa para tirar dúvidas posteriormente”, finalizou.