#contesuahistoria – Tip Top, o cavalo que fez o nome de Ana Cláudia Madrinheira

Ana Cláudia, premiada madrinheira que se destaca pelo profissionalismo nas arenas brasileiras

Quem não conhece Ana Cláudia Madrinheira, a profissional que nasceu no meio do rodeio e hoje trabalha nas maiores festas do Brasil, se destacando pelo profissionalismo, beleza, força e capacidade nas arenas? O que muita gente não imagina é que foi o cavalo Tip Top que fez sua fama e a levou aos grandes eventos. Ana Cláudia está no #contesuahistoria de hoje, fazendo reverência ao grande parceiro de mais de 20 anos de convivência.

“Tudo que tenho hoje, o meu nome, a participação nas maiores festas, eu devo ao Tip Top, um animal diferenciado, que, com toda certeza, foi o melhor cavalo de madrinhagem que já existiu”, afirma Ana Cláudia, fazendo uma homenagem ao cavalo que foi seu parceiro por muitos anos.

O tordilho Tip Top, mais de 20 anos de parceria

De família tradicional no rodeio, Ana Cláudia nasceu e cresceu em meio às festas e, aos 11 anos de idade, já começou a trabalhar nas arenas. “O primeiro contato o Tip Top foi no rodeio de Naviraí/MS. Ele era do tropeiro Edinho Poubel e, montar nele, já levei um coice, pois era muito bravo. Para eu conseguir montá-lo, tive que colocá-lo no brete, pensei até que não conseguiria trabalhar com ele, mas o medo passou e quando entramos na arena, fazendo mais de 50 montarias, vi que ele era perfeito, gostei da forma que ele trabalhava e, me apaixonei pelo cavalo. De imediato tentei compra-lo, mas o Edinho não queria vender. Somente no ano seguinte, depois de muita conversa, o levei pra casa”, relembra.

A partir daí começou o relacionamento entre Ana Cláudia e Tip Top. “Eu dava banho todo dia, e com isto fomos fazendo amizade. No começo ele ainda dava coice, não gostava que eu passasse a mão na cabeça dele, era muito sistemático e acho que por ele ser assim, as pessoas que mexiam antes com ele, poderiam ter batido nele, o que o deixou ainda mais bravo, mas, para trabalhar, não tinha para nenhum outro cavalo. Ele era perfeito, trabalhava sozinho, tinha uma rédea incrível, era muito ligeiro”.

O trabalho da dupla chamou atenção de todos no rodeio

Com muito carinho e trato, além do contato diário, nasceu uma relação de amor e respeito entre os dois. “Ele pegou amor em mim. Tínhamos contato diário, sem dizer nos finais de semana o trabalho nos rodeios, com muitas montarias, acabamos ficando muito ligados e com isto, se eu descesse dele para outra pessoa montar, ele começava a pular e não deixava, o mesmo acontecia se outra pessoa fosse dar banho ou tratar dele, dava coice. Ele tinha até ciúmes de mim, se eu fosse mexer com outro animal já emburrava e não deixava eu chegar perto dele depois. O Tip Top foi o maior companheiro que tive na madrinhagem, um cavalo fiel que se tornou um filho para mim. Ele foi um cavalo fora de série, que acabou fazendo minha fama, pois no começo ninguém conhecia Ana Cláudia, mas sim a menina do cavalinho tordilho. Era comum o pessoal me ver e perguntar, você é a moça do cavalo tordilho”, conta.

Tip Top para sempre na memória de Ana Cláudia

Apesar de ser “meio tatu com cobra”, como a própria Ana brinca, Tip Top não tinha uma raça definida, segundo ela, era uma mistura de Quarto de Milha com Mangalarga. Ele também não era muito bonito, mas quando estava pronto para entrar na arena, assumia sua elegância e chamava a atenção de todos, com postura no andamento.

“A gente chegava nos rodeios, em meio aquele monte de cavalo bonito e o povo não dava nada por ele, mas quando via ele trabalhando, apaixonava. Quando comprei ele, eu tinha apenas dois anos de madrinhagem, – antes trabalhava num cavalinho antigo do meu pai – e posso afirmar que com certeza devo tudo que conquistei ao Tip Top. O pessoal mais antigo de rodeio conhece e sabe disto. Se você perguntar para quem conheceu este cavalo vai te falar, ele era diferente, tinha um jeito especial de trabalhar”, fala, emocionada, Ana Cláudia.

A primeira vez que a madrinheira trabalhou em Barretos foi com ele. Tip Top foi a garantia de presença de Ana Cláudia nas grandes festas. Mas os anos passam e conforme ela foi sentindo que ele estava envelhecendo, após uns 15 anos trabalhando com ele nas arenas, mesmo ele ainda trabalhando muito bem, ela optou por levar mais animais para os rodeios, até sua aposentadoria. Com isto, muito respeitado pelos outros madrinheiros e no mundo do rodeio por onde Ana Cláudia passou com ele, Tip Top é lembrado.

“Ele era diferente! Tenho e já tive outros cavalos bons, mas sei que igual a ele eu nunca vou ter outro. Foram mais de 15 anos trabalhando juntos, ele só faltava falar, sabia tudo que eu queria. Eu mexia com o corpo e ele já fazia o que eu queria. Quando ele veio a falecer, com 28 anos mais ou menos, estava bem gordo e muito bonito, chorei e senti como se fosse da minha família. Cheguei a ter depressão por um ano. Sonhava com ele, não podia tocar no nome dele, que chorava. Cheguei até pensar que não conseguiria mais trabalhar sem ele. Mas Deus é bom e consegui superar. Já tive outros sete animais depois, nenhum como ele”, conta.

O trabalho de Ana Cláudia, agora com o cavalo My Boy

Depois do Tip Top, veio o Jack na vida de Ana Cláudia, um Quarto de Milha muito bonito, que trabalhava mais na força do que na inteligência. Aposentado, ele curte sua aposentadoria na casa da madrinheira. Hoje ela se destaca com o My Boy, um animal muito ligeiro e esperto, sendo considerado o cavalo que, até agora, chegou mais perto da sua paixão, o Tip Top.

“Antigamente os rodeios tinham 50 ou mais montarias, agora a situação é outra. São menos montarias e tenho mais animais para trabalho. O Tip Top passou toda dificuldade inicial comigo. Não tínhamos trailer, ele ficava solto no fundo da minha casa, enfim, passamos por vários perrengues juntos, e isto fortaleceu ainda mais o nosso relacionamento. Por isto posso pegar o cavalo que for e sei que não será igual a ele”, relata.

Relembrando

“Uma história que lembro como hoje foi quando conheci o seu João Frizo, diretor do rodeio da Festa do Peão de Americana. Ele me viu trabalhando em Barretos com o Tip Top e ficou doido nele. Me ligou para contratar e quando eu cheguei no rodeio, ele viu o cavalo feinho, meio peludo e a primeira pergunta que seu João fez foi: ‘mas era este o cavalo? Está parecendo um urso’. Na hora respondi, ‘é ele mesmo, o senhor verá a noite na arena’. E por muitos anos, mesmo com o Tip Top mais velho, tive que levá-lo, a pedido do seu João que era apaixonado nele”, relembra Ana Cláudia.

Grandes lembranças com Tip Top

Outra história marcante de Tip Top foi no rodeio de Linhares/ES. “Fui pegar um peão que enroscou o pé no estribo e ao sair da montaria ele agarrou na minha calça de couro, me puxou e cai. Na hora o Tip Top, deu um pulo para não pisar em mim e foi sozinho acompanhando o cavalo de rodeio até pará-lo na cerca para que o outro madrinheiro chegasse e colocasse o cabresto. Isto rendeu muita história, do pessoal falar que não precisava de mim para nada, a não ser colocar o cabresto. Eu madrinhava nele sem freio, só na sela e o pessoal pedia para eu fazer demonstrações, pegava o peão e o cavalo, sem rédeas, só na sela e o público ficava doido. Era dele o trabalho na arena e isto, somado a nossa sintonia de muitos anos, não tinha para ninguém”.

Com a experiência de mais de 20 anos como madrinheira reconhecida e premiada nas arenas brasileiras, Ana Cláudia presta aqui sua homenagem ao Tip Top, um animal que não está mais entre nós, mas que continua muito vivo através de suas lembranças no coração de Ana Cláudia.